quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Uma coisa é certa 
Adão Cruz. Ilustração de Adão Cruz.




Uma coisa é certa
aqui sentado na margem deste regato debruado a pedaços de neve o avesso do pensamento já não incomoda.
O silêncio acorda os olhos de pó e a melodia há muito perdida nas encostas nevadas renasce na canção deste rio.
Não importa ser-se aqui planta ou pedra ou torvelinho de água brincando à roda do abismo.
Os soluços são apenas o cantar da água e o tempo de recordar há muito se deslembrou.
A montanha despiu a neve a saudade deixou de respirar tristezas a angústia tem o tamanho da neve e o abraço do sol o tamanho da angústia.
Os lábios rasgados do sexo cósmico devoram os beijos que não têm como a neve a força de um regresso.
O tempo de sorrir não morreu no naufrágio das flores das noites nuas.
Por isso não importa não saber cantar se a música dos teus dedos nasce nos cabelos de hoje.

4 comentários:

  1. O tempo de sorrir não morreu! Fantástico

    Parabens homem de talento inesgotável.

    paxiano

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  2. Obrigado amigo paxiano e luis, mas não exageremos paxiano

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  3. Mais que belo esse canto melancólico à beira da água.

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