segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ilhas de bruma

Eva Cruz



Malas no cais
bom tempo no canal
o Pico envolto
num xaile de nuvens brancas.
O baleeiro espreita o boi do mar
a saudar a terra negra.
Vinhedos de currais
e o mar a beijar
as rugas da lava.
O sol esgueira-se
por chaminés e crateras de vulcões
a descansar em lagoas
de verde e azul.
Hortênsias abraçadas
às rocas de velha
e o mar
enlaçando os montes
em namoro eterno.
Impérios de crenças
erguidos ao mistério
Espírito Santo do medo
que passou
ou há-de vir.
Festas do bravo e da chamarrita.
Sabores a queijo
de vacas mansas
sopa de alcatra
massa sovada
e o arroz doce apetecido.
Vinho verdelho ou de cheiro
angélica e licor de amora
de terras do dragoeiro.
Furnas e fumarolas
borbulham para o ar
raiva da terra
por não ser mar.
Malas no cais
embarque e desembarque
num vaivém de espuma
nostalgia das ilhas de bruma.

4 comentários:

  1. Com o cheiro da maresia, as nuvens a esconderem o Pico,o canal que é logo ali e nunca mais chega, o emigrante açoreano que parte com as malas à espera no cais, está aqui tudo, cara Eva.

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  2. É o belo poema da Eva Cruz que me transporta para "O Mau Tempo no Canal" de que nunca mais me esqueço

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  3. E o Vitorino Nemésio naquele belo programa de televisão, verdadeiro serviço público, a trazer a poesia e a cultura ao povo até então ignorado . Havia mesmo quem defendesse que a poesia não era para o povo que a não compreendia, eram os tais que tinham muitos livros escritos escondidos nas gavetas, mas que passados 35 anos da censura, nunca abriram a gaveta...

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  4. Luís, comprei o vídeo que a RTP fez de alguns desses programas e delicio-me a vê-lo com aquele seu magnífico verbo e com as câmaras a terem que andar atrás dele para o enquadrarem.

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