domingo, 31 de outubro de 2010

Que Lisboa teríamos hoje sem o Terramoto?

                                 
                                          Lisboa antes do Terramoto (Museu da Cidade)


Luis Moreira

Conhecemos cinco dos seis projectos apresentados ao Marquês para reconstruir Lisboa. O sexto desapareceu, o quinto foi construído. Como ainda hoje se pode ver, o motivo principal é que as construções obedeceram a rígidas regras, três fachadas, três andares, o rés-do-chão para lojas e cavalariças, o primeiro andar com varanda e o segundo e terceiro com amplas janelas todas iguais. Tudo o que se vê hoje fora destas regras, como o famoso quarto andar (serviu para compensar alguns proprietários das decisões arbitrárias do velho Marquês) não são originais.

A primeira ideia foi construir Lisboa na área de Belém, mas depois ganhou a reconstrução sobre as próprias ruínas da cidade. Esta reconstrução permitiu abrir amplas avenidas e ruas, o famoso xadrez da baixa de Lisboa. E se não tivesse aconteciso o terramoto como seria hoje Lisboa?

Podemos dar conta de cidades medievais que permaneceram, mas a que mais me chamou a atenção é o centro da cidade de York, no norte da Escócia, com as suas casas de madeira exíguas, as suas ruas estreitas a desaguarem no amplo largo defronte da velha Catedral.

Lisboa, teria crescido ao longo do rio Tejo para sul e para norte ou teria, como aconteceu, crescido em cima das ribeiras que são hoje a avenida de Ceuta em Alcântara, a avenida da Liberdade e a avenida Almirante Reis? Estas três avenidas são o traçado mais lógico, em qualquer circunstância, pois é certa a existência do Alto da Ajuda, onde o rei fez construir a real barraca, o bairro Alto, Mouraria e Alfama. As listas de passageiros e tripulantes dos navios das descobertas não deixam margem para dúvidas que aqueles bairros já eram povoados. Ora este povoamento exige que a ligação entre bairros se fizesse à custa das ribeiras, como aconteceu.

Resta o xadrez da baixa de Lisboa que, obviamente, não existiria. Mas que mudanças os fogos, a degradação e as novas construções introduziriam na malha urbana? O que é certo é que o Terreiro do Paço já existia mas não com o presente perfil e grandeza. Sem a actual dimensão não serviria de "âncora" para a existência da Praça da Figueira (onde já existia o Hospital de Todos os Santos, e a ainda existente Igreja de S. Domingos) e, muito menos, para a dimensão da actual Praça do Rossio.

Tudo indica que a Lisboa sem terramoto, se estenderia de modo semelhante ao actual, mas sem a monumentalidade da sua baixa que, contudo, seria muito diferente, objecto de reconstruções várias ao longo dos séculos.

Mas o mais certo é que lhe teria acontecido o mesmo que a Londres, por exemplo, devorada por fogos imensos que permitiram, tal como o terramoto, a reconstrução a regra e esquadro.

Sem comentários:

Enviar um comentário