sábado, 27 de novembro de 2010

A abertura do campeonato da Europa em 2004 no Estádio do Dragão


Carlos Godinho

A candidatura de Portugal ao 2004 começou em 1998 e teve decisão em Outubro de 1999. A competição começou em Junho de 2004, no Estádio do Dragão, no Porto. Foram portanto, entre candidatura e início da competição, cerca de seis anos de trabalho intenso. De organização e de criação de meios para que a equipa estivesse em perfeitas condições na prova e se possível vencê-la. Estava um dia fantástico de sol quando saímos do hotel e nos dirigimos para o estádio. A cidade estava eufórica, não só com o início da prova mas também pelo facto de se sentir que a Selecção Nacional entraria com o pé direito no seu primeiro jogo, que seria também, em princípio, o último realizado na cidade. Fui eu próprio que na altura da candidatura fiz o desenho de calendário e limitei-me a copiar o que tinha dado resultado em 1991 quando vencemos o Mundial Sub/20, ou seja, o primeiro jogo no Porto, e os restantes em Lisboa, desta vez porém sem esquecer Alvalade.

Nas janelas e por toda a cidade viam-se milhares de bandeiras nacionais que ansiavam pela primeira vitória, contra a Grécia.

O jogo começou mal, com a equipa nervosa, sentindo o peso das responsabilidades e no final os gregos levaram a melhor e venceram.

Desespero, e até choro, nas cabines. Ambiente gelado e desanimado que durou cerca de uma hora até sairmos para o hotel para jantar, antes de regressarmos a Lisboa de avião.

Ao jantar nem uma palavra tentando antecipar-se o que nos esperaria à saída do Porto e à chegada a Lisboa, esperando-se um ambiente hostil à porta do hotel na hora do regresso à capital. Não tomámos grandes medidas de segurança porque sentimos que apesar de tudo, todos se comportaram devidamente e deram o seu melhor.

Eis senão, quando saímos do hotel, uma pequena multidão, aglomerando-se no local onde a polícia o permitiu, começou a gritar “Portugal”, “Portugal”, sem parar, e notoriamente comovidos, acreditando que seria possível dar a volta à situação. Jamais esquecerei esse momento e estou certo, que todos na comitiva sentiram que o primeiro passo para a mudança estava dado. Se as pessoas anónimas que ali estavam acreditavam, só nos restava um caminho, segui-los. O resto da história é conhecido, mas aquela posição, num momento em que seria fácil hostilizar a equipa, dando sequência aliás a posições anteriormente assumidas por alguns dirigentes portistas, foi o tónico que originou a motivação para se superar o que veio a seguir. Aos adeptos da Selecção Nacional da Cidade do Porto, devemos uma parte importante do caminho (quase) vitorioso do Euro 2004.

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