Era uma vez uma Serra e um Vale
Eva Cruz. Ilustração de Adão Cruz
O jardim de Raquel abre-se ao sol
caindo da Serra
uma coberta de retalhos
tecida de mil aromas
borda a pedra do tanque grande.
Entrelaçam ervilhas de cheiro
os toros das couves galegas
esporas azuis na cidreira e na hortelã
abraçam-se pica-narizes e alecrim
e os cosmes cor-de-rosa
chamam os pintassilgos ao cair da tarde.
Malmequeres de muitas cores
e amores-perfeitos
desdenham da singeleza
dos miosótis azul-sulfato
que bebem a água do rego da mina.
As tímidas flores da rama das batatas
estendem o jardim pelo campo fora
fundindo verdes
no verde de todo o Vale.
Raquel desprende-se da pedra do tanque
veste-se da cor dos cosmes
enche a vida de flores
e voa na brisa que afaga o seu jardim.
No regresso do tempo sonhado
à beira do tanque grande
só um pintassilgo volta
ainda
com o cair da tarde.
(In "era uma vez Future Kids)
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