domingo, 2 de janeiro de 2011



Bertolt Brecht


João Machado


1898 - 1956


Bertolt Brecht foi um dramaturgo, encenador e poeta alemão. Pelas descrições que lemos da sua vida percebemos que esteve sempre ligado ao teatro, e que este foi sempre o seu grande interesse. Teve de fugir da Alemanha com o advento do nazismo, viveu e trabalhou nos EUA e na Europa, e voltou a Berlim em 1948, onde fundou o Berliner Ensemble. A sua relação com o regime vigente na RDA foi contraditória; viu o partido comunista ordenar a retirada de cena da peça A Condenação de Lúculo, mas posteriormente atribuíram-lhe o prémio Estaline; os seus detractores acusam-no de lealdade ao regime, mas nunca terá aderido ao partido comunista. O que é inegável é que foi um autor de primeira importância. John Willett (1917-2002), um dos estudiosos da sua vida e obra, que traduziu várias das suas peças para inglês, no artigo que escreveu para a Enciclopédia Collier's, sublinha que Brecht foi acima de tudo um poeta com um grande domínio sobre as formas e os estilos, o que lhe permitia transmitir ao seu trabalho, sobretudo na sua fase mais madura, como que uma simplicidade forçada, com uma força verbal e uma energia que marcavam decisivamente as suas peças. A sua característica principal era o modo aperfeiçoado como conseguia combinar os elementos componentes do seu teatro (as palavras, a música, o enredo, a montagem, a encenação, a teoria) num todo, com tudo relacionado com a sua visão do mundo, marxista, plebeia e antimilitarista (os termos são de Willett). 


Brecht é considerado como a figura maior do teatro do épico, que difere de outras correntes por procurar incutir ao espectador a ideia de que o que está a ver é apenas uma peça de teatro, afastando-se através de um efeito de distanciamento a possibilidade de alienação pelo espectáculo. Brecht também produziu trabalhos teóricos sobre o teatro, dos quais o principal terá sido o Kleines Organon, escrito em Zurique em 1948. Transcrevo a seguir o último dos 77 pontos da obra, que Willett traduziu para inglês, e agora eu traduzo para português:

"Isto quer dizer, as nossas representações devem ficar em segundo lugar em relação ao que está a ser representado, a vida do homem em sociedade; e o prazer que sentimos na perfeição do nosso trabalho deve transformar-se no prazer mais elevado que se sente quando as regras que sobressaem desta vida em sociedade são tratadas como imperfeitas e provisórias. Deste modo o teatro permite aos seus espectadores ficarem construtivamente dispostos quando o espectáculo acaba. Tenhamos a esperança de que o teatro lhes permita gozar como um entretenimento o terrível e infindável trabalho que lhes deveria assegurar a sobrevivência, em conjunto com o terror da sua incessante transformação. Deixemo-los organizar as suas vidas da maneira mais simples; porque a maneira mais simples de viver é na arte".

E vou terminar por agora, oferecendo-vos versos de Brecht, que nos mandou a Augusta Clara:

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de
arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer
natural nada deve parecer impossível de mudar.


Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis.

                                              

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