Carlos Loures
O que é um blogue? Uma feira de vaidades onde se exibem habilidades ou um espaço plural onde se expõem opiniões, sujeitas depois, a críticas, favoráveis ou desfavoráveis? Será também um meio de aliviar tensões, deitando cá para fora o que nos aflige ou preocupa. A esta função catártica há mesmo quem chame blogoterapia. Um blogue parece ser um pouco de tudo isto. Fonte dinâmica de informação e de entretenimento, os blogues possuem também o tal poder catártico, pois dizem-se coisas que doutro modo ficariam sepultadas e, quem sabe, a remoer dúvidas, a adensar angústias dentro das cabeças dos bloguistas. Aliviando tensões, os blogues terão salvo vidas, evitando suicídios, embora quem viaje um pouco pela blogosfera encontre comentários, disputas, susceptíveis de provocar suicídios. Porque é preciso cuidado com as pulsões que se libertam - podem transformar-se em rottweilers à solta e sem açaimo.
Dizia-me há semanas um amigo que os blogues, mais tarde ou mais cedo, implodem devido às quezílias que se levantam entre os colaboradores. Lutas ideológicas, religiosas, clubísticas, regionalistas, quando não mesmo a luta pelo poder dentro do blogue, vão criando rancores, os comentários azedam e o blogue extingue-se. Porém, neste momento estão a ser criados mais de 80 blogues, pois é o que acontece em cada segundo que passa; cinco mil por minuto, 120 mil por dia... Em todo o mundo, devem existir cerca de 200 milhões. Nesta perspectiva, acabar um blogue, não é grave, pois a blogosfera é um universo em permanente expansão. Agora, vejam esta definição:
“A blogosfera é um saco de gatos que mistura o óptimo com o rasca e acabou por tornar-se um prolongamento do magistério da opinião nos jornais. Num qualquer blogger existe e vegeta um colunista ambicioso ou desempregado ou um mero espírito ocioso e rancoroso. Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Mas, sem querer estar aqui a analisar a blogosfera e as suas implicações, nem a evidente vantagem dessa existência e da qualidade e liberdade que revela por vezes, destituindo do seu posto informativo os jornais e televisões aprisionados em formatos e vícios, o resíduo principal de tudo isto é que os jornais mudaram, e muito, e mudaram muito rapidamente». Clara Ferreira Alves teria supostamente escrito estas linhas no Diário Digital, texto que levantou a ira de muitos bloguistas. Soube-se depois que era apócrifo. Porém, sendo apócrifo, não é totalmente destituído de razão – os blogues transformaram-se em receptáculos de prosas absolutamente impensáveis – a iliteracia, a ignorância, ao fanatismo desbragado (político, religioso, futebolístico…), tudo é acolhido nos blogues.
Há blogues onde se dá vazão aos sentimentos mais primários, à obscenidade sem limites, à mais ordinária incontinência verbal, pois na blogosfera, liberdade é igual a impunidade. Nestas condições, de facto, separar o óptimo do rasca, não é fácil. Embora esse seja um problema que não afecta somente os colaboradores dos blogues, reconhece-se que neste meio ele assume uma maior acuidade. A blogosfera é livre e isso é bom enquanto todos se comportarem de forma civilizada. Oxalá a irresponsabilidade não obrigue a criar regras sem as quais até agora se tem vivido perfeitamente.
No Estrolabio não existe uma linha, uma identidade ideológica ou de qualquer outra natureza. Não havendo ortodoxia não pode haver fugas a qualquer linha. Aqui, cada um defende aquilo em que acredita. Sem lançar anátemas sobre aquilo em que os companheiros acreditam, embora possamos discordar, debater. O blogger não tem de respeitar as ideias dos outros (as ideias fizeram-se para ser debatidas, rebatidas e, se necessário, abatidas); mas deve respeitar sempre quem expende essas ideias com que não concorda.
Porque, na nossa opinião, o código deontológico de quem colabora em blogues permite rebater ideias com que se não concorda, por mais sagradas que sejam para outros. Mas obriga a respeitar sempre os outros, mesmo que sejam os defensores de ideias que nos parecem absurdas. É tão simples, não é?
terça-feira, 15 de junho de 2010
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o problema é que ofender é mais fácil do que ter opinião.
ResponderEliminarVai ter de haver uma maneira de impedir os energúmenos de entrar. Ou então este meio não tem futuro.
ResponderEliminarNão sei se tem futuro. Existe socialmente, não podemos voltar atrás. Podemos não ler, podemos não colaborar. A definição anterior fez-me sorrir, corresponde a muitas coisas que andam por aí. E porque estou eu também a aceitar o desafio dos Carlos (o Loures e o Mesquita)? Também uma escritora frustrada? Talvez. O que expresso aqui, faço também de outra forma, mais falada, sem o cuidado da escrita. Forçar-me a fazê-lo deste modo é um exercício de que também tiro proveito. Obriga a sintetizar, relacionar, as ideias ficam mais claras. Se forem compatilhadas, então melhor, saberei onde me colocar, desfazer algumas dúvidas, reforçar as poucas certezas. Comunicar, em suma. Já que estamos cada um em seu lugar... A propósito, que tal um jantar para conhecermos a cara uns dos outros?
ResponderEliminarO blogue não pode ser um vasadouro de toda a imundice que um sujeito tenha na cabeça. As regras da democracia mental e da educação são claras: discutir, discordar, polemizar quando é preciso de modo a aprendermos qualquer coisa de útil. Para fazer lixo não é preciso. Temos de sobra.
ResponderEliminaro blogue reflecte a realidade. há lixo na blogosfera? e fora dela?
ResponderEliminarhaverá lixo editado em formato de livro? é boa a reflexão enquanto nos pede habilidade na nossa linguagem. é bom ver um post assim comentado!
É isso. Os comentários são ideias em movimento. E já se disseram coisas importantes:
ResponderEliminara)Se os blogues têm futuro ou não, é impossível saber; têm «presente» (Clara)
b)Não devem ser vasadouro de imundícies, mas sim um meio de comunicação de ideias (António)
c)O lixo da blogosfera reflecte o que existe noutros meios (Paladar).
Reflectir sobre este suporte, parece-me importante. E o jantar sugerido pela Clara tembém faz todo o sentido. Entre os 21, devo ser o privilegiado que conhece, um por um, cada estrolábico. Mas seria útil a tal reunião. E faço um pedido de alteração - não poderá antes ser um almoço? É que não janto.
Que seja um almoço- hora boa em que estamos despertos!
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