domingo, 29 de agosto de 2010

“Eu vi, mas agarrei”

Liliana Guimarães


Cerca de 200 pessoas marcaram presença na cerimónia que, mais do que lançar o livro “Era uma vez em Outubro”, serviu de sincera homenagem à autora, Eva Cruz

Na mesa, da esquerda para a direita: Dilma Nantes, Suzana Menezes, Cristina Marques, Miguel Amorim, Eva Cruz, Pedro Nuno Pinto de Oliveira, Susana Silva e Clara Reis. Na guitarra, Manel Cruz, encerrou a sessão com “Capitão Romance”



Na mesa, da esquerda para a direita: Dilma Nantes, Suzana Menezes, Cristina Marques, Miguel Amorim, Eva Cruz, Pedro Nuno Pinto de Oliveira, Susana Silva e Clara Reis. Na guitarra, Manel Cruz, encerrou a sessão com “Capitão Romance”

Para apresentar o livro à vasta audiência, seis antigos alunos e uma representante da autarquia sentaram-se à mesma mesa de Eva Cruz. Muito emocionada, a antiga professora de inglês e alemão dirigiu-se aos seus “meninos” que marcaram presença da sessão e que reconhece “por baixo dos cabelos brancos e de algumas rugas”. Apresentou “Era uma vez em Outubro” como um livro “desejado pelos alunos” e prometido por si. “Quiseram ser eles a apresentar o livro”, disse a professora, que concluiu estar presente um “grupo significativo do mar de alunos” por onde navegou. Na audiência, esse mar ganhava outras proporções com várias gerações de políticos, médicos, engenheiros, sapateiros e até o antigo reitor do liceu entre os presentes. Eva Cruz dirigiu palavras de agradecimentos a todos, em especial à família e amigos da terra natal. “São 40 anos de atividade em S. João da Madeira, mas eu sou de Vale de Cambra”, lembrou. Dirigiu-se ao irmão, Adão Cruz, o “parceiro, crítico, produtor” para agradecer a “beleza literária do prefácio”. Ao sobrinho Manel Cruz, “o artista que todos conhecem”, a autora agradeceu a capa do livro e “o entendimento que faz das (minhas) pequenas coisas”.

“Agradeço acima de tudo à vida que pôs no meu caminho de gente tão bonita e simpática como vós”, disse a professora aos presentes a quem agradeceu terem passado na sua vida.

Eva Cruz apresentou “Era uma vez em Outubro” como um “livrinho pequenino que leva meia hora a ler”, mas que “não foi nada fácil de fazer”. O que terá começado como uma crónica, assumiu formato de livro quando a autora não conseguiu “distanciar-se” dos “episódios muito bonitos, cómicos, dramáticos”. Eva Cruz disse ter tido essa “preocupação” em não particularizar os referidos episódios, para que o livro fosse mais “universal”. “É, realmente, o aprender e ensinar que é de todos”, disse.

“Era uma vez em Outubro” retrata o percurso pessoal da menina que entrou para a escola, que se fez mulher e professora e que fixou atividade em S. João da Madeira até ao dia da reforma. Este é “o resumo de uma vida que começa num dia em Outubro e termina num dia de Outubro”, garante Eva Cruz. “É tão intimista” diz a autora ao mesmo tempo que refere a necessidade que sentiu em partilhar com todos aqueles com quem viveu e conviveu.

Do ponto de vista formal, a autora caracteriza o livro como sendo “nem verso nem prosa” ou aquilo a que chamam “poema” com muitas características de prosa. Trata-se de uma “visão romântica do ensino”, ainda que “realista”, o reflexo de uma “experiência vivida”. Eva Cruz definiu ainda a sua terceira obra como um “livro de sentimentos e afetos e de alguma reflexão”. Para encerrar a sua intervenção Eva Cruz leu o poema que depois o sobrinho interpretou à guitarra.

As vidas que tocou

Para apresentar “Era uma vez em Outubro”, seis antigos alunos de Eva Cruz fizeram uma homenagem à professora. Anteriormente, em representação da autarquia, a vereadora responsável pela Educação disse aos presentes que, apesar de não ter tido o prazer de ter sido aluna de Eva Cruz, nutre por esta uma “profunda admiração”. Dilma Nantes notou que a história da vida da professora “é um pouco a história da nossa cidade” também.

A antiga aluna e também professora Cristina Marques agradeceu a Eva Cruz o “contributo na nossa formação enquanto professores e como pessoas”. A professora fez uma análise estrutual do livro que disse ter uma “componente emotiva muito, muito forte”. Cristina Marques considera “Era uma vez em Outubro” como um “poema único”, um “livro emocionado e que emociona”, com uma “dimensão metafórica muito vasta”. A professora outrora aluna descreveu este como um “livro de ideias”, “um livro de partilha”, “um livro de e para todos nós”.

Atualmente também professor, Pedro Nuno Pinto de Oliveira disse que esta sessão se tratou de uma “justa homenagem”. “Para além das aulas, era a nossa professora, a pessoa que sabíamos que nos ouvia e tentava compreender as nossas inquietações”, lembrou o professor. Pedro Nuno Pinto de Oliveira lembrou os livros proibidos antes do 25 de Abril que originaram algumas partes do livro de Eva Cruz, as greves, a contestação e os “episódios marcantes” dos tempos de estudante. À professora Eva Cruz, o professor Pedro Nuno Pinto de Oliveira agradeceu “por sempre ter voado alto”.

Em representação das mais jovens gerações de alunos de Eva Cruz, a coordenadora do Museu da Chapelaria, Suzana Menezes, teceu vários elogios à professora. Disse que, tal como no poema de Eugénio de Andrade, “foi o sorriso aberto” que a prendeu. Com Eva Cruz, Suzana Menezes disse ter aprendido “o valor do trabalho e da exigência”, “do rigor e da exatidão”. Enalteceu ainda “o profundo sentido de justiça” e a dedicação à escola, a “cordialidade e a diplomacia”. “Aprendi com ela coisas que não se traduzem verbalmente”, rematou.

O advogado Miguel Amorim teve a intervenção que mais risos e sorrisos arrancou à plateia. Lembrando os tempos idos da repressão, Miguel Amorim lembrou que o que travou a sua vida foram os “faróis”. “Tive um em casa e outro no liceu”, disse referindo-se à professora homenageada. “A dr. Eva é um farol porque é um monumento catalisador”, disse. O advogado elogiou ainda a capacidade da professora de chegar a todos os alunos, o que se refletiu numa audiência heterogénea. “Há aqui de tudo e o nosso denominador comum é a dr. Eva”, rematou.

A presidente da universidade sénior disse que esta não era só mais uma professora, mas “a professora”. “Nunca mais fomos os mesmos”, disse, referindo-se aos tempos de alunos de Eva Cruz. Susana Silva apontou para a “viagem ao passado, tão terna e tão doce” que é proporcionada pelo livro em apresentação. Da autora lembrou que foi esta quem a “ensinou a estar, ouvir e pensar”. “You are our special one” (é a nossa especial), terminou Susana Silva.

“Companheira de sonho”, Eva Cruz “representa aqueles para quem a escola é tudo”, disse a colega Clara Reis. A professora ainda em exercício apontou para o livro em apresentação como uma “leitura que muito nos pode ensinar”, já que foi feita com “a mestria no uso das palavras” que caracteriza a autora.

Emocionada, Eva Cruz interveio depois de todos os alunos, no fim da sessão que começou com duas canções de Joan Baez interpretadas por outra professora. Em jeito de resumo, Eva Cruz leu o poema do sobrinho Manel Cruz. Ao “Capitão Romance” retirou uma palavra e agarrou tudo o que nela tocou.

1 comentário:

  1. O Adão tem uma família de artistas, aqui no estrolabio temos o universo para pontuarem de arte com luz própria.Estrelas!

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