quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (17), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (17)
  por Carlos Durão

(continuação)

Testemunhos

Sobre os níveis de representação fonológica, precisa o prof. Domingos Prieto: “várias variantes pertencem a uma mesma língua, do ponto de vista fonológico, quando estas variantes compartem a mesma representação morfemática. Pelo demais, as regras fonológicas que projetam o nível morfemático no nível fonemático e fonético, assim como estes dous últimos níveis, podem ser mais ou menos diferentes para cada variante./ Este é o caso das variantes oralmente autónomas do galego-português: todas compartem a mesma representação morfemática do ponto de vista fonológico e se queremos ser coerentes temos que respeitar esta mesma representação graficamente. Pouco importa que cada variante em particular tenha níveis fonemáticos e fonéticos diferentes das outras variantes; as regras próprias a cada uma delas permitem-lhes passar sistematicamente do nível morfemático ao nível fonemático e fonético, e estas regras e estes níveis não têm porque figurar no sistema ortográfico” (1985, 4/5: 82-83); “O rendimento dum sistema de comunicação mede-se pela sua capacidade em representar sistematicamente todas as palavras (e não as variantes das palavras) com um número limitado de símbolos gráficos. Para consegui-lo o sistema representa unicamente os traços idiossincráticos de cada palavra (os traços que não podem ser derivados por meio de regras fonológicas [...]). Os traços que não são idiossincráticos (que podem ser derivados por regras) não têm porque ser representados./ Em concreto, as palavras podem mudar de forma segundo a sua posição na oração (por exemplo a preposição a contrai-se com outras palavras dando lugar a formas muito diferentes [...]) mas todas estas formas podem ser derivadas pelas regras inerentes ao galego e não têm porque ser representadas graficamente (assim representar as palavras ao como ó ou ò, não somente é uma redundância [...] mas também deformação gráfica inútil da nossa língua” (1987, 11-12: 46-47); “A hegemonia do Sul sobre o Norte depois da separaçom da actual Galiza e de Portugal, traduziu-se logo na hegemonia lingüística do dialecto colonial sobre o dialecto metropolitano, como actualmente se poderia traduzir, seguindo esta mesma lógica, na hegemonia lingüística do brasileiro sobre o português comum europeu, sobre o galego, etc.” (1989, II: 292).

Testemunho do Presidente de Honra das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, e derradeiro das IF históricas, Jenaro Marinhas del Valhe: “ouvi-lhe comentar ao querido e admirado Filgueira Valverde que os galegos soemos topar mais dificuldades em aprender a falar bem o português que os próprios castelhanos. Isto é certo: nom aprendemos a falá-lo bem porque já o falamos; mal, pero já o falamos; igualmente que andaluzes e estremenhos que podem pronunciar correctamente inglês ou francês, nom conseguem aprender a falar bem o castelhano: é porque já o falam; mal, pero já o falam” (1985, 1: 38); “Já não se trata, portanto, de irmanarmo-nos numa fala, trata-se melhor de irmanar diversas falas, as diversas falas que têm por padrão a língua portuguesa” (1993, 29-34: 16).

E o professor Agostinho da Silva testemunha: “Parece, portanto que o que se tem de fazer é uma integração geral do Galego, do Português de Portugal e do Português do Brasil [...] Deve poder dizer-se indistintamente que o Galego é uma forma do Português, ou o Português é uma forma do Galego, ou os dois uma unidade com o Português ultramarino” (1972, 9). Já antes deixara patente o que pensava ao respeito: "se o Portugal da Península se perdesse, se perderia a Galiza; um viverá pelo outro, um se salvará pelo outro: lição que, esquecida na história, bem caro lhes custou"; e: "O que parecia uma pequena província obscura, tendo quando muito para se exprimir em têrmos de alguma universalidade a estrangeira língua castelhana, pode de súbito, usando sua própria língua, e apenas passando, como é necessário, e alguns vão já fazendo, a uma comum ortografia com o português do Brasil, atribuir-se a um papel de primeira plana" (1960.2009: 11-20).

(continua)

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