segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (28), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (28)
  por Carlos Durão

(continuação)

Mário Herrero Valeiro: “Na Galiza vivemos num paradoxo: existe uma língua que ninguém está obrigado a conhecer, mas que deve ser escrita de uma forma determinada, com as letras doutra língua que é de obrigado conhecimento, mas que ninguém obriga a escrever de uma forma determinada. Paradoxos da democracia" (2006, 85/86: 268); “O português da Galiza está ameaçado de morte, condenado ao extermínio, mas as elites políticas da terra firme ao Sul parecem preferir a companhia, economicamente rendável, dos exterminadores, internos ou externos” (1993, 29-34: 145); “Reintegracionismo. Defende que não existem critérios linguístico-estruturais suficientes que permitam falar de uma língua galega independente do português” (2009, I: 118).

Isaac Díaz Pardo: “O problema da língua está sujeito ao domínio ou entrega dos nossos recursos, o que nos obrigará a falar no idioma de quem tenha a propriedade deles. E este sim que é o verdadeiro problema para a nossa língua porque os que têm estabelecidos os seus poderes aqui e agora som sipaios, som entregadores a troços da Galiza ao domínio forâneo” (2008: 95).
Celso Álvarez Cáccamo: “É evidente que na Galiza actual as únicas tentativas de quebrar o mercado linguístico espanhol são as que provêm do luso-reintegracionismo [...] A opção luso-reintegracionista implica, não um questionamento do funcionamento básico da língua como padrão de troco e mecanismo de selecção social no capitalismo, mas uma ré-territorialização (a ampliação desse mercado), que subleva perigosamente a linha dos estados-nação (o Reino de Espanha e a República de Portugal) [...] As posições luso-reintegracionistas e isolacionistas estão ancoradas estrutural e diferencialmente no processo (económico-social) de produção de saber” (2003, 73/74: 11-13); "O galego e o português sempre foram a mesma língua, desde as suas origens no território da Gallæcia até a sua diversidade actual por vários continentes" (2002). "A reivindicação do nome "galego" para o galego-português da Galiza não deve obscurecer o facto de este galego ser essencialmente português, a par do brasileiro, o moçambicano, o lisboeta ou outras variedades, correspondam estas a países inteiros, regiões, grupos sociais, etc." (2003); “a ditongação do [õ] + [N] em [ãw] não é alheia tampouco, intrinsecamente, à tendência fonética interna dos dialetos galegos, pois é fruto tanto da analogia quanto da nasalação. Poderia chegar a dar-se também na Galiza sistematicamente? Por que não? Tudo dependeria de (a) uma pronúncia habitual e uma ortofonia que mantenha a nasalação do "o" (frente à alveolarização castelhanizante do segmento "m" final, que reduz a nasalação, [teson] em lugar de [tesõN], onde N = nasal velar); e (b) o grau de exposição, a travês dos meios de comunicação, a modelos ortofónicos que ditongam” (2008).

Miguel Cupeiro Frade: “Se os portugueses escrevem cantaram ou cantam, como o pronunciamos
nós, por que não podemos escrever cantarão ou estão, como o pronunciam eles?/ O uso
complementar de -m e til não corresponde melhor aos falares portugueses, nem sequer ao padrão
oral português, do que aos falares galegos. Pelo contrário, é altamente satisfatório para todos./ Isso
mesmo acontece, aliás, com o conjunto da ortografia portuguesa atual. Ela é largamente fonética,
mas não completamente, baseando-se na nossa tradição medieval e procurando supradialetalismo.
Estas circunstâncias é que explicam que essa ortografia, globalmente, responda tão bem às
pronúncias galegas, mesmo quando há leves diferenças fonéticas” (2009, I: 270).

Alexandre Banhos: “A nossa língua, o português, que assim é conhecida internacionalmente”
(2008, 65).

Ernesto Vázquez Souza: “Tenho claro que o grande erro do reintegracionismo, a remora destas últimas duas décadas, é não ter sido roturista com o estadual/institucional... / Ter pretendido debater ideias e consensuar estratégias sentando-se a debater sem ter poder... absurdo. Primeiro é que tinha de ter poder./ Mas em realidade esta é a remora do nacionalismo ou do galeguismo.../ Todos como idiotas temos caído na trampa tendida pelo pinheirismo de sacrificar as nossas trajetórias, vidas intelectuais pelo bem da nação, da língua ou do galeguismo, calado, tolerado e suportado atitudes, gentes, felonias, misérias... por causa de crermos que existia um conjunto e que havia que chegar a um consenso... / Depois de 30 anos de fracassos, purgas constantes, sacrifícios, voluntarismo, esforços tremendos por parte das pessoas sem recompensa... não há nada. [...] há gentes divididas e desanimadas... ocupando pequenas e ridículas parcelas de poder intelectual subalterno./ Mas foi um erro consensuar... não é verdade que mereça a pena tratar de se sentar a debater para chegar a acordos... a nós vai-nos muito melhor, sem dobres linguagens, sem falsas tolerâncias, sem concórdias que só servem para que outros explorem o nosso trabalho, ideias e iniciativas.../ E vai-nos melhor, porque nós TRABALHAMOS. E trabalhamos bem, estruturando com ideia de futuro e projetos, medindo os poucos recursos e tempo, querendo e considerando as críticas” (http://www.pglingua.org/foros/viewtopic.php?f=1&t=2031&p=30170#p30170, 31 outubro 2010)

Vítor Meirinho Guede: “Mostrando-se ser a língua dos galegos e dos portugueses a mesma” (2003, 73/74: 124).

Fernando Venâncio: “«Galego» e «Português» são dois nomes para uma mesma língua. /os galegos exprimem-se, também eles, numa ‘norma’ própria, a ‘norma’ galega do nosso comum idioma./Seria de todo impossível chamar às três normas ‘normas de português’? Impossível não seria. Mas, a ser isso possível, seria incomparavelmente preferível chamar-lhes ‘normas de galego’. Não digo que devesse. Digo só que era, das duas alternativas, a mais óbvia, a mais defensável. É que foi na Galiza que o nosso idioma se formou e ganhou as feições que, hoje ainda, o distinguem de qualquer outro” (2007): «Tambén não se insistirá na questão, entre todas magna, de serem galego e português um ou dois idiomas. Para o autor deste trabalho, eles são variantes dum só e mesmo idioma. Ou, reduzindo a questão ao essencial: todas as estruturas que distinguem galego e português das outras línguas românicas, têm-nas eles em comum. No presente estudo, ‘galego’ e ‘português’ designarão, pois, duas normas, diferentes e marcadíssimas.» (2007, 3: 27); “For now, what is my opinion on this issue? Well, I state that Galician and Portuguese are the same language. I base this opinion on structural grounds. Indeed, all important phonological, lexical, morphological and syntactic features of Galician and Portuguese – that is, the features in which they differ from any other Latin language – are common to both” (2006); “Considero que galego e português são, ainda e sempre, o mesmo idioma. Mas considero, igualmente, que essa identidade, sendo verdadeira, não é óbvia. Por isso trabalho em conseguir demonstrá-la (2008); «Na Galiza a minha língua chama-se galego» (2006, 172).

(continua)

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