Duas visões diferentes sobre o Natal
João Machado
Muitas vezes temos dúvidas sobre o que representa para nós o Natal. Apresento-vos aqui dois pontos de vista diferentes. Alguns de vós acharão que são totalmente opostos. Outros dirão que, embora diferentes, até podem coexistir. O primeiro ponto de vista é dado através de um conto de Tolstoi (1828-1910). Ora leiam, uma história que o autor de Guerra e Paz e de Anna Karenina escreveu, passada no Natal :
Conto de Natal
Leon Tolstoi
Um camponês russo, muito cristão, pedia nas suas orações que Jesus o viesse visitar à sua humilde cabana.
Na véspera do Natal sonhou que o Senhor lhe iria aparecer. Teve tanta certeza da visita que, logo que acordou, se levantou-se e imediatamente começou a limpar e a arrumar a casa para receber o tão esperado hóspede.
Lá fora, uivava uma violenta tempestade de granizo e neve, e o camponês prosseguia as suas tarefas domésticas, ao mesmo tempo que vigiava a sopa de legumes, que era o seu prato preferido.
De vez em quando ia olhar a estrada, sempre na expectativa. Passado algum tempo, viu que alguém se aproximava caminhando com dificuldade no meio do nevão. Era um pobre bufarinheiro, que carregava às costas um fardo bastante pesado. Com pena do homem, saiu da cabana e foi ao encontro do pobre mercador. Levou-o para o interior, pôs sua roupa a secar perto do lume da chaminé e repartiu com o hóspede a sopa de legumes. Apenas consentiu em deixá-lo partir quando viu que recuperara forças para retomar a jornada.
Olhando depois pela janela, vislumbrou uma mulher na estrada coberta de neve. Foi ter com ela e deu-lhe abrigo na choupana. Fê-la sentar-se próximo da chaminé, deu-lhe de comer, agasalhou-a com a sua capa... Não a deixou partir enquanto não viu que tinha de novo forças suficientes para a caminhada.
Olhando depois pela janela, vislumbrou uma mulher na estrada coberta de neve. Foi ter com ela e deu-lhe abrigo na choupana. Fê-la sentar-se próximo da chaminé, deu-lhe de comer, agasalhou-a com a sua capa... Não a deixou partir enquanto não viu que tinha de novo forças suficientes para a caminhada.
A noite caía... E Jesus não vinha!
De esperança quase perdida, foi novamente foi á janela e perscrutou a estrada atapetada de neve. A custo viu uma criança, percebendo que se encontrava perdida e enregelada pelo frio... Saiu mais uma vez, pegou na criança ao colo e levou-a para a cabana. Deu-lhe de comer, e não demorou muito para que a visse adormecida junto ao calor da chaminé.
Cansado e desolado, o camponês sentou-se e acabou também ele por adormecer junto ao fogo.
Porém, de súbito, uma luz radiosa, que não provinha da lareira, iluminou tudo! Diante do pobre homem, surgiu risonho o Senhor, envolto numa túnica branca!
- Ah! Senhor! Esperei-Vos todo o dia e não aparecestes, lamentou-se.
Jesus respondeu:
- Por três vezes, visitei hoje a tua cabana: o mercador que socorreste, aqueceste e alimentaste...era Eu! A pobre mulher, a quem deste a capa...era Eu! E essa criança que salvaste da tempestade, era Eu também... O Bem que a cada um deles fizeste, a mim mesmo o fizeste.
(Traduzido de uma edição francesa)
___________________________
Tolstoi, a partir de certa idade, converteu-se e mostrou mesmo pendor para o misticismo. É a fase de Sonata a Kreutzer e de Resurreição. Este conto provavelmente data dessa altura (não tenho a certeza). Mas agora apresento-vos este vídeo, que nos foi remetido pelo Rui Oliveira. E depois, temos este ponto vista bastante diverso. Esta história do Natal on-line terá alguma coisa a ver com a atitude de Jesus Cristo, quando expulsou os vendilhões do Templo? Será uma denúncia do evento comercial em que se tornou a festa da Natal? Ou será apenas para nossa diversão? Pronunciem-se, por favor.___________________________
Eu só me pronuncio sobre o conto do Tolstoi porque me arrepia pensar que esse conto foi escrito pelo mesmo autor dos dois monumentos da literatura que referes.
ResponderEliminar