quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Maratona Poética - Ora aí temos o Saúl Dias, a Ethel Feldman e o Vinicius de Moraes


Saúl Dias

(Vila do Conde, 1902-1983)


SANGUE




Versos
escrevem-se
depois de ter sofrido.

O coração
dita-os apressadamente.
E a mão tremente
quer fixar no papel os sons dispersos...

É só com sangue que se escrevem versos.

Ethel Feldman
(São Paulo, 1954)

POESIA

Brilharam teus olhos

Alcançou tua voz a natureza
Fazendo de ti amigo
do peixe que te vence
Pode a loucura matar-te
Tua lonjura será alívio
dos homens bem comportados
que surdos, perderam há anos
o som que os rodeia
Entre o velho e o mar
Nasces tu desencontrado
na cidade que não te acolhe
e gritas sem educação:
Sinto-me bem na natureza
Que ela não fala!

Grito contigo em surdina
o que não se explica
ancas generosas
desejo que se transcende

silenciosa é a poesia
amor que se sente
um olhar fugaz
fazendo do tempo
nosso presente.
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Vinicius de Moraes


(Rio de Janeiro, 1913-1980)




O POETA APRENDIZ

Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogando de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar
Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Com beijos e rimas
Amava suas tias
De peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser

Vamos ouvir o poema, cantado por Vinicius e por Toquinho, com música deste último:











Nós nunca fechamos - a seguir, às 16:00,  vêm Rafael Alberti, Ricardo Palma e Mia Couto.

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