quarta-feira, 12 de maio de 2010

Norberto Ávila - "Algum Teatro"


António Gomes Marques

Recentemente, recebi um «e-mail» do meu amigo Norberto Ávila, que conheci na Divisão de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura há cerca de 33/34 anos, sendo eu então Presidente da Direcção da APTA - Associação Portuguesa do Teatro de Amadores, ao qual respondi, pela mesma via, com um comentário. Eis o conteúdo de um e outro:

---------- Mensagem encaminhada ----------

De: Norberto Ávila
Data: 8 de maio de 2010 17:08
Assunto: Norberto Ávila / ALGUM TEATRO
Para: agomesmarques@gmail.com

– Se lhe parece que os teatros deste País (Nacionais, Municipais, Independentes ou Amadores que sejam) deveriam, mais frequentemente, incluir nos seus repertórios obras de autores portugueses,
– se reconhece que, em tempos difíceis, é menos recomendável o recurso a direitos de autor estrangeiros,
– se considera que Norberto Ávila é um dos autores teatrais que merecem ser mais representados em Portugal (depois de 50 anos de trabalho dramatúrgico e uma ampla carreira internacional),
– se concorda que a ficção teatral poderá ser de tão agradável leitura quanto a ficção narrativa,
– participe na divulgação da seguinte notícia:


De: António Gomes Marques [mailto:agomesmarques@gmail.com]
Enviada: domingo, 9 de Maio de 2010 22:22
Para: oficinadescrita@gmail.com
Assunto: Norberto Ávila / ALGUM TEATRO

Meu Caro Norberto

Vi com muita alegria a publicação da tua obra teatral pela Imprensa Nacional; infelizmente, a editora, pelo preço que fixa, não parece muito interessada na venda dos mesmos. Eu próprio, que não posso dizer que vivo mal, tive de esperar pela Feira do Livro para adquirir um ou dois volumes (na próxima semana) da tua obra teatral, embora já tenha alguns dos livros que foste publicando, como sabes, podendo mesmo dizer que, enquanto Presidente da Direcção da Associação Portuguesa do Teatro de Amadores promovi a publicação da tua obra mais representada em Portugal e no Estrangeiro, As Histórias de Hakim, em Fevereiro de 1978, quando as editoras não se mostravam dispostas a publicar teatro, como hoje também não se mostram. É o país que temos e tu conhece-lo bem.

Este «e-mail» vai para uma quantidade enorme de amigos, lembrando-lhes que há um Teatro Português. Quanto às Companhias de Teatro, o problema é outro, ou melhor, os problemas são muitos. Quando a regras de atribuição de subsídios às Companhias se altera de modo a servir uma determinada pessoa, quando há um «lobby» que todos nós, os que ao teatro estão atentos, conhecemos, a esperança de ver mais teatro português vai desaparecendo. Por outro lado, é muito mais fácil ir ver algumas peças ao estrangeiro e depois encená-las em Portugal do que pegar numa peça que ainda ninguém encenou e apresentá-la ao público.

Não vou escrever mais, conheces-me e podes contar comigo para sessões de divulgação dos livros agora publicados, há associações abertas a esta colaboração.

Recebe o abraço amigo do

Gomes Marques
PS - Em Dezembro passado, estive de novo na tua Angra do Heroísmo e gostei muito de voltar, depois de cerca de 15 anos ou mais.

Mas quem é este autor?

NORBERTO ÁVILA nasceu numa das mais lindas cidades de Portugal, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira - Açores, a 9 de Setembro de 1936. A sua paixão pelo teatro levou -o a frequentar, de 1963 a 1965, a Universidade do Teatro das Nações, em Paris. Criou e dirigiu a revista Teatro em Movimento (Lisboa, 1973-75). Chefiou a Divisão de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura por um período de 4 anos, cargo que abandonou em 1978, trocando uma vida estável, com ordenado garantido pela aventura da escrita, a que, a partir de então, se tem dedicado com verdadeira paixão e grande qualidade, escrita essa mais dedicada ao teatro do que à prosa e à poesia.

A sua produção é notável, com cerca de 30 peças de teatro, a parte mais significativa da sua obra, 3 romances e um livro de poesia.
Traduziu obras de Jan Kott ( o polémico Shakespeare, nosso contemporâneo, uma edição da velha Portugália Editora, em 1968), Shakespeare, Tennessee Williams, Arthur Miller, Audiberti, Husson, Schiller, Kinoshita, Valle-Inclán, Fassbinder, Blanco-Amor, Zorrilla e L. Wouters.
Estendeu também a sua actividade à Televisão (Canal 1 da RTP), dirigindo uma série de programas quinzenais - Fila 1 - retratando a actividade tetaral em Portugal, na década de 80 do século passado.

Curiosamente, lembrando o velho ditado «santos da casa não fazem milagres», a obra teatral de Norberto Ávila é mais representada no estrangeiro, em países como Alemanha, Áustria, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Holanda, Itália, República Checa, Roménia, Sérvia e Suíça., do que em Portugal. «As Histórias de Hakim», peça infantil editada pela APTA em 1978, é talvez ainda a peça de Norberto Ávila mais representada nos 4 cantos do Mundo, com traduções em alemão, francês e espanhol, e que, curiosamente, teve a sua primeira representação no velho Teatro Monumental (já desaparecido), na temporada de 1969-1970,.
Parece-nos oportuna esta edição da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, desejando nós que agora, já que não temos companhias de teatro e encenadores com coragem, os leitores se debrucem sobre este excelente autor, merecedor do reconhecimento dos portugueses.

António Gomes Marques

2 comentários:

  1. O Norberto Ávila é um homem que tem dado o melhor da sua vida à causa do Teatro. As pessoas que defendem uma forma de expressão cultural tão desprotegida (como o Luiz Francisco Rebello, como o Norberto Ávila, como o fez o Carlos Porto, como tu, António) deviam ser mais apoiadas pelos poderes públicos. Infelizmente, as prioridades são outras...

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  2. António Gomes Marques23 de maio de 2010 às 12:01

    Oh, Carlos! Há dezenas de anos que nós falamos sobre estas coisas. Mesmo no Partido Socialista (que com o José Sócrates de socialista apenas tem o nome), quando se fala de cultura as pessoas passam adiante. A actual Ministra da Cultura parece estar a ter uma boa colaboração com a Sociedade Portuguesa de Autores, ouvi-o do José Jorge Letria, na presença dela, mas está a destruir o que de bom se estava a fazer no Teatro S. Carlos, julgo que com o apoio do «lobby» do costume.
    A terminar este comentário, direi ainda o que tu sabes tão bem quanto eu: somos sempre os mesmos a falar destas coisas!

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