quinta-feira, 20 de maio de 2010

A vida é um conto cheio de som e fúria, narrado por um louco, e nada significa

Nota sobre o mais recente filme realizado por Woody Allen - You Will Meet A Tall Dark Stranger

Carlos Loures

No sábado passado, em Cannes, Woody Allen apresentou o seu mais recente filme, a comédia romântica You Will Meet A Tall Dark Stranger, com actores como Anthony Hopkins, Antonio Banderas, Josh Brolin, Freida Pinto, Naomi Watts e Lucy Punch que substituiu a inicialmente prevista Nicole Kidman. No vídeo, podemos assistir a um memento da conferência de imprensa. You Will Meet a Tall Dark Stranger é o quarto filme que Allen roda em Londres, parecendo ter virado definitivamente as costas a Hollywood.



O tema do filme, ainda sem título em português, gira em torno da vida amorosa dos membros de uma família, e das suas tentativas para a tornar menos disfuncional. Isto, à superfície. Sob esta camada visível, subjaz a eterna obsessão de Allen – a morte. Com 74 anos, Woody Allen chega à conclusão de que a velhice não tem graça, nem traz qualquer vantagem, apenas dá problemas nas costas, vai-se perdendo a vista. A idade não nos torna mais inteligentes, nem mais generosos… «Não podem evitar a velhice?», pergunta. Interrogado sobre o que pensa sobre a morte, responde prontamente «- Sou contra!». Um casal divorciado (Anthony Hopkins e Gemma Jones) tem uma filha (Naomi Watts), com uma vida sentimental complexa, onde se cruzam o marido (Josh Brolin) e o dono de uma galeria de arte (Antonio Banderas). O título do filme, que se pode traduzir por “ irá encontrar um homem alto e escuro”, é uma alusão satírica às frases ditas por bruxas e videntes a mulheres que pretendem descortinar o seu futuro amoroso.


Como sempe faz nos seus filmes, Allen chama subtilmente a atenção para a face cruelmente absurda da vida. Por vezes, chega-se ao fim da caminhada e pergunta-se «para quê?», «porquê?». A resposta, dada no filme pela voz do narrador em off é colhida no famoso solilóquio de “Macbeth”:: “A vida é um conto cheio de som e fúria, narrado por um louco, e nada significa”. Na conferência de imprensa de sábado passado, Woody Allen responde a Shakespeare e dá uma solução para enfrentar a falta de sentido da existência: “- A única maneira de sobreviver é mentir, mentir” e acrescentou: “ De contrário, a vida torna-se insuportável”.

Um filme de Woody Allen. A não perder, ainda que seja para discordar dos pressupostos de um homem que provoca gargalhadas, mesmo quando põe tudo em causa.

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