quinta-feira, 10 de junho de 2010

As comemorações camonianas - o centenário da República-2

Carlos Loures

Hoje, dia de Camões, julgo oportuno lembrar o importante papel que as comemorações do tricentenário da morte do poeta, realizadas em 1880, tiveram na marcha para a proclamação da República trinta anos depois. Vejamos, em síntese, o que aconteceu nos anos precedentes.

Em 10 de Janeiro de 1875, no reinado de D. Luís, fundara-se o Partido Socialista Português (Partido Operário Socialista), figurando entre os seus fundadores nomes prestigiosos como os de José Fontana, Azedo Gneco, Antero de Quental. O Partido surgiu na sequência das decisões do Congresso de Haia da AIT - Associação Internacional de Trabalhadores.

Em França, a vitória dos republicanos nas eleições de 26 de Fevereiro de 1876, deu sinal de que a restauração da monarquia estava comprometida. Em Portugal, essa vitória deu grande alento aos que pretendiam derrubar o regime monárquico. Num banquete, em que estiveram presentes representantes das diversas tendências do republicanismo, festejou-se a vitória em França.

Em 25 de Abril de 1876, foi criado em Lisboa o Centro Eleitoral Republicano Democrático, onde se juntavam diversas sensibilidades. No seguimento deste processo, eleger-se-ia o Directório do Partido Republicano. Há historiadores que consideram ter sido este o primeiro passo para a constituição do Partido Republicano, formado em 7 de Setembro 1876. Resultando do Pacto da Granja, nele se fundiram o Partido Reformista e o Partido Histórico, que, desde 1871, encabeçavam a oposição ao governo regenerador de Fontes Pereira de Melo.

Em 1878, nas eleições de Outubro, o Partido Republicano apresentou-se pela primeira vez ao eleitorado, conseguindo eleger o deputado Rodrigues de Freitas pelo círculo do Porto. Em 2 de Janeiro de 1879, mercê das divergências existentes no seio do Centro Republicano Democrático, foi criado o Centro Republicano Federal.

E chegamos a 1880. Seria durante as comemorações do tricentenário da morte de Camões, que o movimento ganharia grande impulso e implantação. A presença de republicanos ilustres na comissão organizadora – Teófilo Braga, Magalhães Lima, Batalha Reis…,e o envolvimento do Partido Republicano na iniciativa, permitiu que o ideal se difundisse entre o povo. Ideal que foi apreendido de forma simplista, baseado em oratórias demagógicas. O rei D. Luís e o partido Progressista, então no Governo, entenderam que estando os festejos partidarizados, mais valia ignorá-los. Um erro grave. Aos olhos do povo os republicanos começaram a surgir como zelando pelos valores históricos, enquanto o rei e os monárquicos os desprezavam ostensivamente. Ideia que se acentuou em 1890 quando foram os republicanos a assumir as grandes manifestações de desagravo pelo insultuoso Ultimato britânico.

Foi o tricentenário de Camões a dar a primeira oportunidade de protagonismo ao PRP, que então revelou uma grande vitalidade e capacidade organizativa. Principalmente o cortejo cívico que atravessou a capital no meio de grande entusiasmo popular. A trasladação dos restos mortais de Camões e de Vasco da Gama para os Jerónimos, foram outro momento, bem como as luminárias. Os republicanos, mercê de uma inteligente demagogia, apareceram aos olhos da maioria do povo como defensores dos valores históricos da Pátria. A República parecia ser a solução para todos os males do País.

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