Manuela Degerine
Capítulo XI
Etapa 4: Literatura de viagens
Quando a digressão entra num texto é como o bicho dentro da madeira: vai roendo. Pois... Agora interrogo-me sobre a relação entre a viagem e a literatura.
A literatura de viagens conta viagens, eu sei, até frequentei na faculdade de letras uma cadeira com este tema. Estudámos naquele ano, é claro e inevitável, Os Lusíadas, a História Trágico-Marítima, a Peregrinação... E fiz um estudo comparativo entre Traços do Extremo Oriente de Venceslau de Morais e um texto de Camilo Pessanha sobre os chineses.
A literatura de viagens vai – nas minhas leituras – do Satiricon a Na Patagónia (Bruce Chatwin), passando por muitas obras francesas e, nos últimos anos, até por algumas crónicas publicadas em revistas. E volta sempre ao Almeida Garrett, que continuo, de vez em quando, a ler, não por obrigação profissional, a profissão de professora de português em França passou a excluir os textos literários, considerados agora pouco acessíveis – o que só por si já diz muito sobre o ensino. Leio as Viagens por gosto: para me rir. (O A. é, entre outras qualidades, um interlocutor divertido.)
O narrador de Viagens na Minha Terra fala pouco dos espaços que atravessa, no entanto hoje, para mim, a Azambuja continua ainda a ser o lugar de onde o pinhal se mudou. Não só mas também. Um espaço é, entre outras definições possíveis, a soma das evocações, das imagens, dos delírios que inspirou. E o Almeida Garrett descreveu pouco mas delirou muito à volta dos lugares por onde passava. Enriqueceu-os, portanto.
Eu vivo no mundo poluído e apressado do século XXI, escrevo num computador, publico agora na Internet... E sou uma mulher. Como é que isto – e tudo quanto sou para além disto – se vai manifestando nestas Novas Viagens? Interrogo-me sem querer, por ora, encontrar respostas.
Caminheiro, não há caminho: faz-se o caminho a andar.
É como remar. Abre-te mar que vai aqui um homem( no caso uma mulher)
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