quinta-feira, 8 de julho de 2010
Hoje, o António José Forte vem ao Terreiro da Lusofonia pela voz do Vitorino
Todos conhecem «Leitaria Garrett», a bela canção de Vitorino, com que abrimos este post, mas o que nem todos sabem é que o autor da letra foi António José Forte. Falemos então do «mano Forte», como lhe chamava o Luiz Pacheco.
António José Forte nasceu em 1931, na Póvoa de Santa Iria. Ligado ao movimento surrealista, fez parte nas décadas de 50 e 60 do chamado grupo do Café Gelo. Colaborou no segundo número da revista Pirâmide (1959) e em diversos jornais, tais como A Rabeca, Notícias de Chaves, O Templário, Diário de Lisboa, A Batalha, JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, publicou o seu primeiro livro, «40 Noites de Insónia de Fogo de Dentes Numa Girândola Implacável e Outros Poemas», em 1958. A sua poesia está reunida em «Uma Faca nos Dentes» (Parceria A. M. Pereira, 1983), com prefácio de Herberto Helder e desenhos de Aldina Costa, artista plástica e sua companheira. Trabalhou durante quase trinta anos na Fundação Calouste Gulbenkian. Entre a sua obra, destacam-se, além dos já citados, os livros «Uma Rosa na Tromba do Elefante (1971)» – livro para crianças, «Azuliante» (1984), «Caligrafia Ardente» (1987), «Corpo de Ninguém», que reúne a sua obra poética (1989) e a 2ª edição de «Uma Faca nos Dentes» (2003), que inclui alguns poemas inéditos. Luiz Pacheco publicou «Mano Forte» – correspondência entre ele e A. J. Forte (2002. António José Forte faleceu em Lisboa no dia 15 de Dezembro de 1988.
De Uma «Faca nos Dentes», este poema
AINDA NÃO
Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar
ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem
ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer
ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça
ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração
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Acompanhei a produção deste disco, com capa do pai da minha filha. E tenho uma garrafa de tinto, "editada" na altura, com o nome de "Leitaria Garrett". Não fosse eu querer guardá-la "religiosamente", bebia-a com uma saúde ao António Forte. E já agora, da Aldina...
ResponderEliminarSempre nos demos muito bem. Tenho recordações do Forte (e da Aldina) que dão para um post de recorte memorialista. Talvez o faça um dia destes. Por exemplo, durante mais de um ano, almoçámos todas as semanas em dia certo no Pelé, um restaurante (mauzinho)da Rua João Crisóstomo. Sob a batuta do Pedro Oom, que vinha do INE, andámos a projectar uma comuna no Ribatejo. Ainda fui ver terrenos com o Jaime Camecelha. Um projecto ambicioso e louco. Estávamos em 72, 73, princípio de 74 - depois foi o 25 de Abril e o Pedro, que era a alma daquela utopia, morreu de comoção ao ver os pides a fugir pelos telhados, como ratazanas.
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