quinta-feira, 29 de julho de 2010

"O Escritor Fantasma", de Roman Polanski

João Machado


Fui ontem ver este filme. Muito certinho, mas não é o melhor de Polanski. Gira à volta de um tema muito actual. Imaginem um escritor habituado a escrever sob o nome de outros, ou sob a capa de personagens especiais. Daí o título do filme, Ghost Writer, que deve ter um equivalente em português, que não me lembro qual é. Entretanto o nosso homem é contratado, um bocado contrariado, para escrever (como Ghost Writer, claro) uma autobiografia, precisamente a do ex-primeiro ministro inglês. Para o efeito tem de ir para os Estados Unidos, para uma ilha, para, em máxima segurança, executar a tarefa de que o incumbiram. Entretanto, fica a saber que está a continuar o trabalho de um assessor do ex-primeiro ministro, que apareceu morto. O filme então arranca como uma história policial, com bastante suspense.

O ex-primeiro ministro inspira-se, obviamente em Tony Blair, e nas suas ligações aos norte americanos. É um tema de grande actualidade, sem dúvida, mas a transformação do escritor em detective não é muito convincente. Aí o Roman Polanski não mostrou o seu grande talento. Embora o enredo tenha alguma verosimilhança, penso que o rancor aos Estados Unidos tê-lo-á feito perder algum engenho. As tonalidades estão lá, a fúria securitária, a voracidade da comunicação social existem na vida real, assim como o cabotinismo e a duplicidade dos políticos, mais as atitudes quase demenciais das pessoas que os rodeiam. O que não consigo é imaginar um escritor profissional, muito bem pago, de repente virar detective, e enfrentar tudo e todos, incluindo perigos muito evidentes de um modo tão directo. Claro que há pessoas com princípios, mas não parecia ser o caso do nosso herói, que até era um homem que não se interessava por política. Permito-me uma comparação: Manuel Vázquez Montalbán aborda um tema parecido de um modo brilhante em Galíndez, que decorre, é verdade, em meios muito diferentes. Conta a história de um crime cometido para encobrir outros, de natureza política, analisando detidamente as motivações dos vários personagens, o que Polanski faz apenas muito ao de leve. Mesmo tendo em conta as diferentes possibilidades de narração entre um filme e um romance, acho podia ter ido mais longe neste campo.

Os filmes de Roman Polanski que vi podiam-se arrumar em diferentes géneros cinematográficos, policias (como Chinatown), de terror (como Rosemary’s Baby), ou de vampiros (como The Fearless Vampire Killers, em Portugal Por Favor Não me Mordam o Pescoço). Contudo todos tinham um toque muito pessoal, que contribuía decisivamente para cativar o público. Ghost Writer também prende a atenção, mas não é tão convincente. Os actores são muito bons, o enredo é que não foi bem desenvolvido.

1 comentário:

  1. Meu caro, João, eu acho que é um belíssimo filme, talvez não chegue lá ao cimo e, estou de acordo, não tem o nível de alguns que referes do mesmo autor

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