segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Justiça - 97% de mérito ?


Luís Moreira

A mesma Justiça que se afunda em escândalos, com zero de credibilidade, com 1,2 milhões de processos atrasados, avalia-se a si mesma com 97% de "muito bons" e "bons"!

97% dos agentes judiciários recebem uma nota que não condiz com o estado da Justiça, são todos "muito bons" mas a Justiça não presta, a causa deve ser os advogados porque defendem os seus constituintes, os arguidos porque não assinam as confissões de culpa, e os tribunais porque perdem tempo a fazer julgamentos. Se não se perdesse tempo com papéis, leis, direitos, tudo corria à maravilha, e a Justiça estaria ao nível destes iluminados.

É assim em toda a Administração Pública, a avaliação é um "faz de conta", ninguem é avaliado, não se mede o mérito, nem a obtençaõ de objectivos, o que é preciso é que o tempo passe para chegarem todos ao topo da carreira.É esta a guerra que se trava tambem no Ministério da Educação, não são os alunos que são a preocupação,nem a escola, nem os resultados, o que interessa mesmo é a carreirinha...

Como é possível que esta Justiça que nos envergonha a todos, se avalie a si própria como "muita boa"? Ou é possível que a soma dos 97% de "bons" e "muito bons" seja igual a péssimo? Como é possível isto acontecer sem ninguem se indignar?

Já falta pouco para a censura voltar a ser azul, os tribunais serem " a bem da nação" e as escolas serem de todos menos dos alunos. O mais duro corporativismo tomou conta do Estado e das nossas contribuições!

Não somos todos muito bons?

2 comentários:

  1. A classificação (agora chamam-lhe avaliação) de serviço é um sistema cada vez mais hermético, cada vez mais orientado para defender os notadores, e não os notados, ou os utentes dos serviços, que são os principais interessados. Há que ver os responsáveis dos serviços, que são quem na prática classifica os funcionários (sejam eles professores, magistrados, contínuos (perdão, julgo que agora se chamam auxiliares de qualquer coisa)etc., foram nomeados para os seus lugares por serem de confiança, e portanto são fiéis cumpridores da norma suprema, não escrita em lado nenhum, de não levantar ondas. Isto contamina todo o serviço público. Mas há ainda outra questão; um funcionário competente (parece que ainda há alguns exemplares) é um chato, incomoda, e então se tem a mania de obter resultados com o seu serviço ... cuidado! Portanto, nada de descontentar os menos competentes, nem de entusiasmar os melhores. É por isso que a maioria dos chefes dão notas iguais ao grosso da coluna. E alegam que por causa dos concursos têm de dar muito bom, para não prejudicar os seus classificados (ou avaliados), o que é obviamente um disparate mas que já ouvi ser repetido por pessoas de grande capacidade. A maneira de resolver isto não é com as quotas introduzidas pelo Durão Barroso, cujo resultado foi passarem a dar os muito bons em roulement, mas pura e simplesmente mudando as chefias excessivamente generosas (eu digo, pouco criteriosas) com as classificações/avaliações.

    O problema da justiça vai muito além disto. O aspecto mais grave é o de, em Portugal, haver uma justiça para ricos, e outra para pobres. Os magistrados têm a sua quota parte de responsabilidades, mas não são os únicos. Nem talvez os principais.

    Aceita um abraço, Luís

    João

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  2. Obrigado, João.Mas isto tem que ser dito, porque mostra onde chega o corporativismo. O que tu dizes é verdade, eu recusei-me sempre a dar "muitos bons" a toda a gente, concedi esse poder ao meu vice...mas é assim, porque o sistema é boicotado, faz-se avaliação há 30 anos, bem, ao certo é desde sempre, porque sempre se soube quem trabalha e quem não o faz.E os colegas são quem melhor sabe.Mas depois há as compensações...Abraço

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