segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Notas de cêntimo (3)

Carlos Mesquita

Perigo nuclear. Há gerações que vivemos com medo do nuclear, demos-lhe nome e apelido – “ameaça nuclear” – do receio fizemos nome próprio; Ameaça. Perante ela exigem-se cautelas, fica-se de atalaia aos sinais de perigo. Desde a detonação da primeira bomba atómica sobre o Japão, visto o rasto de destruição e terror que causaram, que a humanidade teme ser atingida pela libertação de energia nuclear e pela poluição radioactiva. Assistimos à escalada armamentista dos dois blocos durante a guerra-fria, vimos proliferar o arsenal nuclear por outros países que se tornaram por isso potências militares. Duas gerações ainda vivas presenciaram os momentos de crise internacional em que o Mundo esteve perto de se digladiar com armas nucleares. Quando após a queda do muro de Berlim, se pensava irmos viver com mais acalmia, soube-se que não havia controle sobre parte dos arsenais espalhados pelas republicas da ex União Soviética, e que a desordem no próprio exército russo, punha em causa a segurança dos meios militares que utilizam energia atómica. Como fabricar engenhos nucleares deixou de ser segredo, aumenta o número de países com capacidade tecnológica para enriquecer os combustíveis necessários, e alguns deles parecem dispostos a resolver problemas regionais com o recurso a essas armas. Não estamos mais seguros que durante a guerra-fria, ninguém sabe se o próximo conflito será na zona do Paquistão, das Coreias ou no Médio Oriente, mas há ameaças latentes nessas regiões do mundo e outras poderão ser acrescentadas nos anos vindouros.

Outros perigos nucleares. Em 1986 aconteceu Chernobyl, um acidente numa central de energia nuclear. O perigo de desastre numa central, que mobilizou milhares de militantes contra o nuclear, principalmente desde os anos sessenta, ocorreu na Ucrânia. Foi o maior acidente do género na história, sete mil pessoas morreram, meio milhão continuará a sofrer os efeitos do desastre durante gerações. A radioactividade (200 vezes as das bombas de Hiroshima e Nagasáqui) atingiu mais de 100 mil quilómetros quadrados da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia, contaminando solos e águas. Inutilizou milhares de hectares de terra e atingiu centenas de milhar de hectares de floresta. É parte dessa floresta que agora arde na Rússia. Os incêndios florestais que ocorrem desde o mês passado atingiram, segundo as notícias, quatro mil hectares de área poluída pela radiação de Chernobyl. Os ventos poderão levar cinzas radioactivas resultantes dos incêndios a outras regiões do país ou até a países vizinhos. Dezanove anos após o acidente, quando o mundo descansava acreditando que o sarcófago de Chernobyl tinha a ameaça controlada, soa o alarme, a radioactividade uma vez libertada fica connosco durante muitas gerações.

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