sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E ninguém pia? Só quando são iranianas?

"Tinha 41 anos e um QI de 72 – 70 é o limite da deficiência mental. Foi executada na Virgínia quando passavam poucos minutos das duas da manhã em Lisboa. Os jornalistas que assistiram à injecção letal descreveram que Teresa Lewis parecia “nervosa” e “assustada”.

 
Para além de estar próxima do atraso mental, parece que ficou provado que ela estava drogada e não foi ela que planeou o crime, mandar matar o marido. O número de execuções marcadas nos EU até sete de Dezembro é de dez execuções. Depois, como li no artigo de um amigo meu, são férias de Natal.

Matar desta forma, com régua de cálculo, com calendário, com peso e medida, cerimoniosamente, usando mãos tão ensanguentadas ou mais do que as do próprio condenado, em nome de uma justiça que não existe, em nome de princípios que absolvem quando convém, à ordem dos que fazem as leis à sua medida e programam a moral que lhes serve, é arrepiante.

A macabra aceitação da fatalidade, o sinistro sangue-frio de um tribunal que não vacila no último minuto, o génio astucioso e hábil da verdade que se pretende, a impoluta boa-gente que não se engana, as instituições que a “honra” não deixa recuar, os fautores da razão armada, os cobardes trajes da resolução “nobre e corajosa”, o calculado eufemismo da segurança geral, a inflexível posição sobre a desditosa e inexorável hora do fraco, o lúgubre silêncio da humanidade, não mais enganam.

Tudo à boa maneira nazi.

___________________________________

12 comentários:

  1. É algo inadmíssivel que alguem tenha a capacidade de decidir da vida e da morte de um ser humano.

    ResponderEliminar
  2. Muito bem, Carlos. Não há justificação para a pena de morte. Um estado civilizado não pode ter a pena de morte incluída nas leis que aplica.

    ResponderEliminar
  3. Mantém-se anos e anos artificialmente vivas pessoas simplesmente porque não é permitido desligar a máquina...fazem-se manifestações, petições, missas cantadas contra a eutanásia, contra o aborto mas continuamos a permitir que haja seres humanos com dia e hora marcada para partirem desta vida.

    ResponderEliminar
  4. João - o texto é do Adão Cruz - mas o Estrolabio assume por inteiro a posição dele.

    ResponderEliminar
  5. E com a suprema hipocrisia de ser arvorarem em paladinos da democracia mundial. Tens toda a razão, onde está a condenação mundial a esta execução? Porque será que quem condena - e bem - a condenação da Ashtiani não se choca com esta execução?

    ResponderEliminar
  6. Como fui eu que piei pelas iranianas, vou responder. Ainda pensei em não o fazer por causa do título. Tem um ar provocatório de que não gostei.
    Mas vamos por partes, meu querido amigo:
    1 - Sou contra a pena de morte, em absoluto e em qualquer parte do mundo;
    2 - Sou contra a pena de morte tanto para as mulheres como para os homens - sou feminista mas não sou sexista e, a ti, não preciso de explicar a diferença - e não devem faltar, nos EUA, homens no corredor da morte, ou que ainda lá não chegaram ou que já de lá saíram há muito, com vidas e problemas mentais muito semelhantes aos desta mulher;
    3 - No meu texto em que falei das iranianas falei ou, pelo menos foi o que eu pretendi, das mulheres que, por todo o mundo, e ao longo dos séculos, têm sido vítimas de crimes, quanto mais não seja do crime de omissão.Não tratei de mulheres que cometeram crimes, qualquer que tivesse sido o motivo para os praticarem ou o seu estado de saúde. São temas do foro psiquiátrico e criminal.
    4 - Só falei em dois casos particulares - uma mulher afegã e outra iraniana - como exemplo de extrema barbárie e porque andaram, nestas últimas semanas destacados nas páginas de jornais e revistas.
    Claro que os EUA estão fartos de cometer crimes a nível mundial. Mas, como denúncia destes crimes, apreciei muito mais um belíssimo poema que, também, aqui apareceu dum tal poeta chamado Adão Cruz.

    ResponderEliminar
  7. As vítimias não têm nacionalidade, nem cor, são vítimas, ponto final!Incluindo as vítimas ocidentais, que não são poucas.

    ResponderEliminar
  8. Pois, e para que não restem dúvidas, estou inteiramente de acordo com o que aí está escrito.

    ResponderEliminar
  9. Augusta, ninguem tem dúvidas acerca do que pensas nesta questão. Mas a verdade é que não houve metade do ruído na CS.

    ResponderEliminar
  10. Tens razão, Luís. E eu sei que foi isso que o Adão teve intenção de dizer. A CS já nós sabemos como nos manipula a cabeça. Era o que o Leça dizia outro dia.

    ResponderEliminar
  11. Augusta, obviamente que não me referia ti nem a ninguém em particular, até porque nem me lembrava, sequer, do texto a que te referes. O que eu quero dizer, em termos gerais, é que se levanta a voz de meio mundo, e ainda bem, contra a condenação de uma mulher iraniana e ninguém pia quando se trata da condenação de de dezenas de mulheres americanas. Dois pesos, duas medidas. Sentimento humano uma treta. Mera questão política. Por isso o título, Augusta, nada tem de provocador.

    ResponderEliminar