quarta-feira, 22 de setembro de 2010

José Pedro Machado - IV

Carlos Loures

(Conclusão)

Não podia terminar esta série de textos sobre José Pedro Machado, sem me referir à grande amizade que nos uniu. Conheci primeiro o João Machado, o nosso João, a seguir ao 25 de Abril, nas complicadas voltas da política. De nome conhecia muito bem o Professor José Pedro Machado. Quem não conhecia? E com o João falei algumas vezes do seu pai e da sua obra.

E, por acaso, nem foi o João que nos apresentou. Fernando Sylvan, o poeta timorense que presidia à Sociedade da Língua Portuguesa, ao qual coloquei a possibilidade de eu comprar para a editora onde trabalhava os direitos de edição do “Grande Dicionário da Língua Portuguesa”, foi quem nos apresentou uma tarde numa reunião que fizemos ainda na sede da Rua de São José. E ficámos amigos.

O meu amigo José Pedro Machado deu-me muitas lições em vida. À mesa do restaurante «O Pardieiro», no Largo da Graça, onde almoçávamos em regra uma vez por mês, na «Chineza» da Rua do Ouro, onde muitas vezes tomávamos o pequeno-almoço num grupo de amigos, na sua maioria seus ex-alunos (entre os quais se contava o meu editor António Baptista Lopes), no  gabinete da editora, onde fazíamos reuniões de trabalho, ou na Livraria Portugália, onde ia todas as manhãs, ensinou-me coisas, sobre as mais variadas matérias, que eu lhe perguntava ou esclarecia dúvidas que surgiam durante as conversas. Grande filólogo, tinha aquilo a que se chama uma cultura enciclopédica que ia muito para lá das fronteiras da sua especialização científica.
Obrigou-me, tal como aos outros amigos, a tratá-lo por tu, embora tivesse idade para ser nosso pai (o meu pai era um ano mais novo). Não dizia, como muitos, que era democrata – praticava a democracia. Em 27 de Julho de 2005, acometido de doença súbita, deixou-nos. Todavia, a sua obra, particularmente o seu «Grande Dicionário da Língua Portuguesa» é para mim um companheiro inseparável. Não sabe tudo, mas sabe muito. Raramente não responde ao que lhe questiono e nunca me desapontou.

O meu amigo continua a ensinar-me. Obrigado José Pedro!

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