quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Mistério da camioneta fantasma, de Hélder Costa -10

(Continuação)

Cena 10

A conspiração com Espanha

( D. Fonseca entra com a mala que Millan Astray lhe deu, abre, tira notas.Som da aldraba,atrapalha-se,abre,entramAlfredodaSilva,CarlosPereira,GastãoMeloMatos)

D. Fonseca – Muy bien, es outra ayuda del reyno de España... Pero D. Afonso XIII esta muy enfadado con la conspiracion portuguesa. En la corte ya decimos por broma que de tanto conspirar, la monarquia está a dormitar.

Alfredo da Silva – quanto é?

D. Fonseca - Queremos accion, unidad de esfuerzos…

Alfredo da Silva – oh homem, fale portugués!

D. Fonseca - energia, bravura... lo esperamos por parte de D. Alfredo da Silva, D. Gaston, señor conde de Tarouca...

Alfredo da Silva – oh Fonseca, diga lá quanto é que sacou ao Rei de Espanha!

D. Fonseca – 700 mil!

Gastão Melo Matos – Muito obrigado pela ajuda de sua majestade, D. Afonso...

Carlos Pereira – esperemos que seja suficiente.

Gastão Melo Matos - tranquilize sua Alteza... temos infiltrado o Exército e a Marinha, feito agitação em diferentes meios sociais, os apoios económicos começam a chegar...

D. Fonseca – Caros amigos, estoy encantado con vuestras palabras y con vuestra voluntad de inversión. Así, creo que podemos mirar al futuro. Un futuro que confirmará el sueño de D. Afonso: crear la Hispania, capital en Madrid y Lisboa su bellissimo puerto de mar. frente al Atlãntico, frente al mar, frente al mundo.

Gastão M. Matos – Com todo o respeito que me merece D. Afonso, penso que é perigoso começar a propor que Portugal perca a independência...

D. Fonseca – La independência? Eso és una question absurda... hablamos de una union... como las antiguas uniones... como si fuera una boda real... y no olvidemos que una union aporta compensasiones para todas las partes...

Alfredo da Silva – Então, sr, Gastão, calma! O que eu percebi foi que essa união, chamemos-lhe assim, iria ter compensações para Portugal... ou seja, lucros para os poderes económicos portugueses...

D. Fonseca - Si, claro...

Alfredo da Silva – Não vejo qual é o problema, se as minhas empresas prosperarem, mais as do sr. conde de Tarouca e outros nossos amigos, se o sr. Gastão fizer progredir a sua casa bancária...

Gastão M. Matos – Mas, a independência...

Alfredo da Silva – Sobre a independência, claro que eu penso que só se pode perdê-la em último recurso, até porque é uma arma de propaganda na mão da maçonaria que pode inflamar o povo.

Carlos Pereira – Também acho.

Alfredo da Silva – Mas também é evidente que, se a situação no país evoluir para o fortalecimento da República, destes ladrões e assassinos, eu lutarei para que Portugal fique debaixo da pata espanhola. Este país, dominado por essa ralé deixa de ser o meu país. Eu não tenho nada a ver com os meus operários, nem com os camponeses, nem com estes agitadores que envenenaram Lisboa.

Carlos Pereira - Os nossos irmãos são os reis de Espanha, da Áustria, da Alemanha, os homens das grandes empresas, a grande finança que está a fazer avançar o mundo.

Alfredo da Silva - O capital não tem pátria, entre nós não há fronteiras, e se Portugal se tornar num buraco sem préstimo, sórdido e repelente para nossa vergonha, que deixe de existir.

( Murmurios de aprovação. Foto frontal)

Gastão M. Matos – Pronto, já me convenceram. E se fossemos comemorar?

Carlos Pereira – (atira serpentina) É Carnaval! O Augusto Gomes está no Teatro Nacional!

Cena 11

Voz – Vamos às putas!



( SLIDE CARNAVAL.Cena de cabaret. Pares e grupos de coristas dançam fox -trot agitando faixas azuis e brancas. Serpentinas, confetti, capitalista acende charuto com uma nota…)

Fim do 1º Acto

Intervalo : Don’t be that way de Benny Goodman

(Continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário