quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Pára-Raios

Augusta Clara de Matos



A vida é tudo menos banal.

Anda uma pessoa no seu dia-a-dia a cumprir o percurso que lhe coube, pisa uma pedra e, zás, salta de lá e alapa-se-lhe no peito.

Foi o que lhe aconteceu a ela. Tão distraída que andava e tão ocupada.

Nessa tarde, ia ter com uma amiga à Feira do Livro mas, antes, havia que cumprir outra combinação.

Ele tinha chegado dos Estados Unidos, um doutoramento concluído e alguém lhe dissera: “É a pessoa certa para o teu trabalho de investigação”.

Era fora de Lisboa e tinha sido tudo tão estranho! Só se lembrava daquela súbita imagem cósmica de uns olhos a invadirem os seus e vice-versa, da descarga eléctrica. E o edifício não tinha pára-raios.

Também não servia para nada. O pior fora a química. Era mais ou menos à volta disso que tinham que discutir.

E discutiram. Os projectos, as inovações, os impactos. Perderam a noção do tempo e aprenderam imenso um com o outro.

Não há doutoramento que valha quando se pisa a pedra errada.

E, quando chegou à Feira, já nem sabia ler.

3 comentários:

  1. Se todos fossemos iletrados desta forma não haveria problema...para quê doutoramentos? Venham estas pedras no caminho e com elas construiremos novos caminhos!

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  2. Obrigada Adão e Clara. Isso é bem verdsde, Clara :)

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