terça-feira, 21 de setembro de 2010

Outra Constituição, outra Democracia, uma Terceira República – 1

Carlos Leça da Veiga


O que leio e ouço na comunicação social; a censura só mudou de traje!

Na realidade, no viver cultural, social e político português, são de sobra os escritos estritamente políticos vindos à luz do dia que, quase sem excepção, não passam de meras caixas de ressonância dos vários directórios partidários ou, pressente-se, têm o visto favorável dos grupos económicos decisores.

As suas essência, mira e alcance – permito-mo dizê-lo – nada têm de feliz, bom grado terem a chancela de políticos ditos de nomeada ou, também, a de comentadores considerados de vulto, uns e outros, conhecidos como profissionais do ofício político com emprego destacado tanto no sector institucional público, nele incluso o partidário, como, também, no empresarial privado sem que neste deva esquecer-se e destacar-se, por entre tantos escribas em actividade, aquele grupo imensamente prolifero, o jornalístico, que – salvam-se as excepções honrosas – não prima por impor a sua necessária autonomia e, como assim, dada a sua responsabilidade pública, não é exemplo duma boa cidadania.

Uns e outros, tantos e todos com estatuto de notabilidade mas, salta à vista, com a necessária e manifesta subserviência ideológica, têm de viver – raríssimos não o farão – no resguardo duma mesma sombra de protecção, sombra que, a qualquer instante, poderá faltar-lhes caso as baias impostas por esse poder, o «poder invisível» apontado por Norberto Bobbio, reajam com desagrado bastante – um desagrado temível e terrível – a qualquer temática menos conforme as intenções fundamentais do «Grande Irmão». Quem quer que seja, dentre quantas figuras a comunicação social tenha promovido à categoria de notável, “muito democraticamente” será levada a sair de cena caso possa atribuir-se-lhe o azar dum qualquer deslize doutrinário, a infelicidade duma falha reverencial, o menosprezo por alguma figura cimeira, um panegírico menos encomiástico, uma explicação politica menos conseguida, uma qualquer pouco convincente, seja o que for, porém, quanto baste para, num mínimo, mesmo sem acinte, poder ofuscar, prejudicar ou obstar à manobra do sistema económico-politico reinante.

Acima de tudo exige-se aos fabricantes da opinião pública que nunca deixem de glorificar as virtudes do mercado, do seu fundamento neoliberal e dos seus valores sacrossantos.

A doutrina em curso – oficiosa como terá de ser – manda que todo o procedimento político, nele subentendido qualquer comentário ou opinião, para poder ser rotulado como responsável, credível e recomendável tem de ser realizado conforme os ditames pressupostos pelo tal poder invisível (mas que, como muitos o sabem, não custa a apontar-se) e deverá pautar-se, com obediência plena e com rigor muito cuidadoso, por coisas mínimas como sejam as de estar-se atento aos pressupostos mais recomendados para, de facto, sine qua non, conseguir subir-se na vida.

Entre esses pressuposto, há exemplos a não esquecer, seja na escrita, seja no discorrer e, como assim, torna-se fundamental a inclusão de algumas passagens que são chave decisiva para as bênçãos da situação política em curso. Assim, dentro esses exemplos, para além dum acendrado e bem demonstrado compromisso com discurso ianque do anti terrorismo – recorde-se o “acendrado patriotismo” tão citado nos tempos salazaristas – há outras certas frases absolutamente necessárias, dum escrúpulo respeitoso e que poderão ser, «na União Europeia tem de ser deste modo», «Bruxelas decide e bem», «conforme a civilização ocidental», «de acordo com a democracia representativa» «a administração norte-americana salvaguarda», «firmeza e prioridade no combate antiterrorista», «as virtudes excelsas do mercado», «o alcance histórico do tratado de Lisboa», «os grandes valores da democracia», «nada melhor que a flexisegurança», «bem vindo o tratado constitucional europeu», «a retoma económica não terá grande demora», «a crise económica em Portugal é um reflexo da internacional» e, amiúde, nunca esquecer de referir «os direitos humanos», em particular na sua mais recente interpretação ianque, Guantanamo inclusive.

Como convêm, como muito convêm, para conseguir revelar ter-se um situacionismo indefectível – sejam quais forem os seus próceres – nunca deixar de inquirir-se, sobre quem quer que seja, «se é dos nossos» ou elucidar «que é dos nossos», todo e qualquer que dê nas vistas para, se o não for, de imediato, passarem a encomendar-se e a ouvirem-se os desagrados indispensáveis. Com efeito, disso não deverá haver dúvidas e, também, não parece nada exagerado, é ter de reconhecer-se que, entre nós, nos tempos que correm, todo o poder está nas mãos da hipocrisia, uma coisa malsã alimentada às mãos cheias por obra dos maiorais da alienação política partidocrática, da subserviência aos ditames do exterior e da aculturação alienígena do que, no seu conjunto, são intermediários destacados!

3 comentários:

  1. Embora comendo da mesma gamela, ainda hoje o Manuel Maria Carrilho foi "despachado" por ter dado uma entrevista no fim de semana onde teve o desplante de se aproximar do que ele entende que vem aí e que seria diferente do que está.Foi cedo...

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  2. Pede-me o Carlos Leça da Veiga que pergunte ao Luis Moreira se ser europeista convicto é querer construir um estado chamado europa, isto é, um IV reich. Com o andar da carruagem está cada vez mais evidente que a união europeia tende abertamente para ser um feudo do império prussiano, vulgarmente conhecido como Alemanha.

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  3. Pois, meu caro, se calhar isto está mesmo a sair dos eixos.Eu quando digo que sou europeísta é no sentido que a economia e os mercados vão ser "continentais" com pelo menos 400 milhões de pessoas como consumidores. Sem essa dimensão não temos saída, mas sob o ponto de vista político é capaz de haver perigos ainda não totalmente evidentes.Mas creio que as nacionalidades não se irão esbater, mas é só um desejo, reconheço.Abraço

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