Marcos Cruz
Talvez seja miopia, ilude-me o coração.
A razão, que a pouco e pouco se esvazia, ainda me faz crer que eu nem com visão te via.
Dá-lhe jeito, ou não fosse ela a prisão de que fugiste e de que eu mesmo, a bem do peito, fugiria.
Se eu persisto na vigia é porque a ilusão não dorme e nada mais me concilia com a razão de ser da fome, sem a qual eu não vivia.
Assisto, cada dia, à erosão da forma, pensando que outra forma não haverá de chegar a ti.
Aí, se eu já não sentir, contentar-me-ei com a nossa ausência, eu e tu fora de tudo e de nós, mas nós.
Um lastro sumido entre o amor vazio e o único silêncio que, de viva voz, não fere o ouvido.
Um astro, um suspiro, um gemido.
A beleza em si.
Até lá não sou mais do que dúvida, mesmo se só respiro pela certeza de te querer aqui.
Tem sido essa a minha natureza, o ser e não ser de uma essência tesa, vincada, que por isso mesmo, e talvez por ti, nunca e sempre deu em nada.
Sou irmão gémeo dos sonhos que tenho.
Começo e acabo a meio.
Resta-me pensar que, no fim, me unirei a ti.
Daqui, olhando em vão, vejo que nada nos juntará, um dia.
Mas, desilude-me a razão, talvez seja miopia.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
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