e
O quadro é de Maluda (1934-1999), o poema da Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e a voz da Dulce Pontes - três femininas visões de uma cidade (também ela feminina, segundo a opinião da maioria dos poetas).Lisboa
Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver
(in Poemas Escolhidos, Lisboa, 1981)
E agora a Dulce Pontes:
Amanhece em Lisboa...
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