segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dia Mundial do Animal - Ode a Jean de La Fontaine podendo também passar por uma autocrítica

Versos de Carlos Loures e fotografias de José Magalhães



Os abutres, as hienas,
os tubarões, os chacais
são apenas animais
que lutam para viver.

Chamar abutre ou hiena,
tubarão, lobo ou chacal
a um grande industrial
ou importante banqueiro,
é abuso de linguagem
e ainda para mais
é o erro cometer
de insultar animais
cujo crime é a coragem
de querer sobreviver.



Mister multinacional
não é abutre, nem hiena,
nem tubarão, nem chacal –
não há nada que não venda,
que não importe ou exporte,
come com os dentes da fome
que devora milhões de homens,
vive com as garras da morte
que ceifa vidas à toa.

Mister multinacional
não é abutre, nem hiena,
nem tubarão, nem chacal.
A quem come carne humana
e converte a morte em ouro,
a vida em mercadoria
de reduzido valor,
é errar a pontaria
chamar abutre ou chacal:

- capitalista é canibal!
- capitalista é canibal!

Nota: Estes versos, cujo título é recente, foram escritos durante o PREC para um cantor, o Aristides. Era um sucesso, sobretudo o estribilho - capitalista é canibal! - era gritado por centenas de vozes num berreiro gisgantesco. Penso que não sobreviveram gravações - facto que em nada prejudica, quer a arte poética, quer a musical.  Agradeço ao José Magalhães o ter concordado em juntar as suas magníficas fotografias  a este regresso ao passado . (CL)

10 comentários:

  1. Porreiro, Carlos! Onde andará o passarinho? :)

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  2. Sei que esteve em África, em Moçambique, penso, onde teve grandes problemas. Quando regressou, há dez anos ou mais, telefonou-me e dissemos que nos iríamos encontrar. Mas nunca mais telefonou, não sei nada dele. Era (espero que ainda seja) louco, mas um tipo coerente - para ele não havia diferença entre teoria e prática - se teoricamente estava certo tinha de ser levado à prática. Este princípio, na acção política, é uma fonte de sarilhos e o Aristides - Passarinho, pelas suas virtudes musicais - mostrou ser um homem valente que nunca fugiu aos sarilhos (atraía-os em catadupa).

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  3. Cheios de energia, estes versos... e gostei da analogia... e das fotos, claro!

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  4. E a Ariel, também. Tinha vindo ver a Revolução e encontrou um passarinho daqueles :)

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  5. Andreia, o Professor Germano Sacarrão, de quem fui amigo, sempre preveniu contra a antropomorfização - os animais nem são bons nem maus, nem estúpidos ou inteligentes - uma galinha (que geralmente é um animal considerado estúpido) tem a inteligência necessária para sobreviver e procriar. Foi partindo desse pressuposto e com uma boa dose de demagogia que fiz os versos para a tal canção.

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  6. Estive com a Ariel (de Bigaut) aqui há uns anos num almoço de amigos na Feira Popular, num 25 de Abril. Estava magríssima, andou pela África Lusófona e pelo Brasil, vi na RTP2 um documentário da sua autoria, sei que tem publicado em CD a recolha e selecção que fez de músicas da lusofonia.
    Recordo uma altura em que o dinheiro era pouco e ela regressou de França, (onde tinha ido buscar fundos familiares) com uma caixa generosa cheia de vários tipos de queijos. Foi um festim, e variámos a ementa que já era arroz de despensa, um prato cujos ingredientes eram, arroz mais a erva aromática que restava na despensa. Curiosamente a Ariel, uma parisiense, não comia queijo.
    Era interessante apresentar no espaço da Lusofonia do Estrolabio, o trabalho desta musicóloga que veio menina ver a Revolução dos Cravos e ficou por cá.

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  7. Vou procurar esses trabalhos. Também estive nesse almoço. Foi, salvo erro, no 25º aniversário da Revolução. Foi uma ideia do Leça da Veiga que escreveu um convite/convocatória giríssimo. Estava muita gente. Não me lembrava que a Ariel tinha sido companheira do Aristides.

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  8. Foi sim e lembro-me de ouvir falar dessas condições difíceis de que o Mesquita fala. Tenho o endereço de mail dela, se for preciso.Eu também estive nesse almoço da
    Feira Popular.

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  9. Em pleno PREC, deu a um grupo de malta, onde eu também me encontrava, para criar um grupo de teatro. E, não sei porquê, também havia cantorias. Então, lá se pôs o passarinho a ensaiar-nos. Mas o estardalhaço foi tanto que chegou a ordem para pararmos. Primeiro tínhamos que fazer a Revolução. Hoje, quando me recordo disso parece-me estar a ouvir a história da guerra do Raúl Solnado.

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  10. O Aristides como cantor era um excelente dinamizador político (falo no pretérito, não porque ele tenha morrido, mas porque se estivesse em acção, já teríamos dado por ele). Ele começou por ser delegado de propaganda médica e, ligado a um laboratório de grande envergadura, chegou a estar em lugares de responsabilidade - em Moçambique (ou Angola). Os norte-coreanos tinham grande influência e subvertiam a verdade científica e a política de saúde em favor de interesses políticos. E o nosso amigo levantou tal escarcéu que foi posto no aeroporto com destino a Lisboa. È mais ou menos isto que recordo de uma longa conversa telefónica que tivemos. E que não teve sequência. não sei nada dele.

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