Cartas de Manuel Laranjeira
Relógio d’Água, 1990
Foi Laranjeira quem me ensinou a ver a alma trágica de Portugal, não direi de todo o Portugal, mas do mais profundo, do maior. E foi ele quem me ensinou a ver não poucos recantos dos tenebrosos abismos da alma humana. Era um espírito sedento de luz, de verdade e justiça. Matou-o a vida. E ao matar-se, deu vida à morte.
O seu livro «Comigo (Versos de Um Solitário)» dá-nos toda a sua alma. O seu pensamento está aí demasiado concentrado Era preciso ouvi-lo falar. E como nas suas cartas fala, creio ser o epistolário o que melhor nos revela a grandeza da sua alma.
Iluminou a cabeça, que era poderosíssima a pensar, com a chama do seu próprio coração ardente. Poucos homens conheci que tenham juntado a uma inteligência tão clara e penetrante um sentimento tão profundo. Nele, como em Antero, a cabeça e o coração travaram renhida batalha.
MIGUEL DE UNAMUNO
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Cartas I
[1852] – 1881
Antero de Quental
Editorial Comunicação, 1989
Antero de Quental é porventura a personalidade mais fascinante que alguma vez surgiu no panorama literário e cultural português um dos nossos raros heróis culturais, chamou-lhe Eduardo Lourenço.
Em 1858, recém-chegado de «uma ilha remota e imersa no seu plácido sono histórico», lidera a juventude universitária coimbrã em todos os conflitos que surgiram entre o conservadorismo académico e o espírito revolucionário estudantil.
Em 1864, aos 23 anos, a hegemonia pseudocultural de Lisboa é abalada com o seu folheto Bom Senso e Bom Gosto que transforma a polémica literária conhecida por Questão Coimbrã numa luta pela independência intelectual e liberdade de opinião.
Dotado de um carácter superior e de uma vigorosa personalidade, a admiração, o respeito e o ascendente que exerceu sobre os seus contemporâneos foram unanimemente…
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Cartas II
1881 – 1891
Antero de Quental
Editorial Comunicação, 1989
Diante de nós vai desenrolar-se a evolução de toda uma vida onde o despojamento e a procura consciente da perfeição constituem a característica dominante. «Propus-me uma coisa muito difícil porque vou vendo que se parece muito com santidade», escreverá um dia a Germano Meireles.
Os acontecimentos importantes da sua vida, aqueles que o catapultaram para a ribalta das letras ou da política, têm nestas cartas tratamento muito desigual. Assistimos assim à pouca ou quase nenhuma importância que a Questão Coimbrã lhe mereceu, e ela foi, no que lhe diz respeito, uma violentíssima explosão de indisciplina criativa e revolucionária. Dir-se-ia que os folhetos Bom Senso e Bom Gosto e a Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais haviam esgotado todo o assunto que não seria digno de ser discutido na intimidade.
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sexta-feira, 15 de outubro de 2010
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