domingo, 17 de outubro de 2010

Fotopoemas - Fotopoemas - A en Joquim Vilà, company, amic, germà

Poema de Josep Anton Vidal e
Fotografia de José de Magalhães

(Versão em português de Carlos Loures)

Ce toit tranquille, où marchent des colombes...
[...]
Éloignes-en les prudentes colombes,
les songes vains, les anges curieux!”

Paul VALÉRY: Le Cimetière marin


Mentre el dia s’adorm –potser per sempre–
en la llum taciturna de la tarda,
d’aquest teulat tranquil, d’on els coloms s’envolen,
l’aire s’endú les cendres
fredes d’un somni antic.

Havíem parlat tant... De tantes coses...

Veníem del silenci, de la nit,
de llargues travessies per ermots dessolats,
i dúiem el sarró ple d’esperances,
de paraules inèdites, de somnis no estrenats.

Als peus de l’olivera centenària
llegíem els poetes que estimàvem
i parlàvem de tot, hores i hores,
com augurs d’un temps nou, guerrers a la conquesta
de somnis i utopies, armats amb la paraula.

Tot era nou i bell en la nostra mirada,
fins els mots i els accents dels versos més antics.
I era tanta la nit,
que amb una espurna ens fèiem una albada.

 Delerós de camins impossibles,
vas marxar a la impensada...

Em van quedar tantes coses per dir-te
i eren tantes les coses que m’havies de dir...!

Porto pols de paraules enganxada a la pell,
als nervis, a la sang, al pensament.
Se m’han mort les paraules de no dir-te-les.

Tot ha passat. És pols.
Ja ni el record serveix.

D’aquest teulat tranquil d’on els coloms s’envolen
s’aixequen somnis nous.
Tu no els veuràs
i potser jo tampoc. Ara, però, la tarda,
amb la claror serena del ponent
ressuscita un moment les paraules perdudes
i em retorna els accents de la vella conversa
barrejats amb els versos d’algun poeta amic...

Cerco la teva veu i sento un batec d’ales...
No saps què donaria perquè fossis aquí!

_______________

Enquanto o dia adormece - talvez para sempre,
no taciturno fulgor do entardecer,
deste telhado tranquilo de onde os pombos levantam voo,
o ar arrasta as cinzas
frias de um sonho antigo.

Tínhamos falado tanto... de tantas coisas...

Vínhamos do silêncio, da noite...
de longas travessias por desolados ermos
e levávamos o bornal carregado de esperanças,
de palavras inéditas, de sonhos por estrear.

Aos pés da oliveira centenária
líamos os poetas que amávamos
e falávamos de tudo, horas e horas,
como augures de um tempo novo, guerreiros à conquista
de sonhos e utopias, armados de palavras.

Tudo era novo e belo ao nosso olhar,
até mesmo as palavras e o ritmo dos versos antigos.
E era tanta a noite,
que apenas com uma chispa
inventávamos a alvorada.

Ansioso por caminhos impossíveis,
partiste sem avisar.

Ficaram-me tantas coisas por dizer-te
e tantas eram as coisas que tinhas para me dizer…

Trago a poeira das palavras colada à pele,
aos nervos, ao sangue, ao pensamento.
Morreram-me as palavras por não tas dizer.
Tudo passou. É pó.
Já nem a recordação serve.

Deste telhado tranquilo de onde os pombos levantam voo,
esvoaçam sonhos novos. Tu já não os verás,
talvez nem eu… Mas a tarde, agora,
com a serena claridade do poente
ressuscita por momentos as palavras perdidas
e devolve-me o eco da conversa antiga
misturado com os versos de algum poeta querido…

Procuro a tua voz e oiço um ruflar de asas…
Não sabes o que daria para que aqui estivesses.

3 comentários:

  1. Este poema até me arrepia. Muito obrigada, Josep, por nos ter feito estas sucessivas traduções. E que bem que escreve em português!

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  2. Muito obrigado, Augusta, por os seus comentários tão amáveis. O mérito da tradução ao Português é totalmente do Carlos Loures, que juntou ao seu domínio da língua a sua sensibilidade de poeta e a sua generosa amizade.

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  3. Ele anda-me sempre a enganar, mas isto já faz parte da nossa longa amizade.

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