Ferrol, 1916
Cinco duros pagávamos de aluguer.
Era um terceiro andar, bem folgado.
Pola parte de atrás dava para o Campinho,
e por diante para a rua de Sam Francisco.
(...)
Ainda vivia minha mãe
e todos os meus irmaos viviam,
e em frente trabalhava o senhor Pedro o tanoeiro,
e a grande tenda de efeitos navais mantinha o seu trafego.
(...)
Via o mar da minha fiestra,
e chegavam cornetas da marinha.
E baixava os degraus duas vezes ao dia para ir à escola,
e duas vezes subia-os de volta.
(...)
As mulheres entom usavam capa e corsé,
e íamos à aldeia em coche de cavalos,
e a rua estava ateigada de pregons de sardinhas
e de ingleses que vendiam Bíblias.
(...)
Todo isto fica tam longe
que a duro podo ainda lembrá-lo.
Esquecia-o dentro de pouco
se nom escrevesse estes versos.
In 'Avalon', Futuro Condicional (1961-1980). Eds. do Castro, 1982.
sábado, 30 de outubro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário