sábado, 30 de outubro de 2010

Leitura dum poema de Carvalho Calero por Pim Patinho na homenagem da Fundaçom Artábria no XVII aniversário da sua morte.

Ferrol, 1916

Cinco duros pagávamos de aluguer.
Era um terceiro andar, bem folgado.
Pola parte de atrás dava para o Campinho,
e por diante para a rua de Sam Francisco.
(...)
Ainda vivia minha mãe
e todos os meus irmaos viviam,
e em frente trabalhava o senhor Pedro o tanoeiro,
e a grande tenda de efeitos navais mantinha o seu trafego.
(...)
Via o mar da minha fiestra,
e chegavam cornetas da marinha.
E baixava os degraus duas vezes ao dia para ir à escola,
e duas vezes subia-os de volta.
(...)
As mulheres entom usavam capa e corsé,
e íamos à aldeia em coche de cavalos,
e a rua estava ateigada de pregons de sardinhas
e de ingleses que vendiam Bíblias.
(...)
Todo isto fica tam longe
que a duro podo ainda lembrá-lo.
Esquecia-o dentro de pouco
se nom escrevesse estes versos.
In 'Avalon', Futuro Condicional (1961-1980). Eds. do Castro, 1982.


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