quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Noctívagos, insones & afins: Coisas breves. Apanhar o avião, ver apanhar o avião.

Carlos Mesquita




Portugal tem tido presidentes, governantes, e deputados, muito viajados. Aproveitam a boleia das passagens pagas pelo Estado e vão visitando os cinco continentes, ficam mais uns dias nas Arábias, dão um salto à Capadócia, fazem-se convidados a visitar outros países convidando os seus homólogos a visitar Portugal, sempre em nome da reciprocidade e boas relações diplomáticas. Os governantes dos outros países fazem o mesmo, mas nenhuma nação tem na bandeira a esfera armilar, antepassada dos roteiros turísticos do ACP. Assumimos o destino histórico de viajeiros, embora uns partam pelas SCUTs aéreas e a maioria fique a ver passar os aviões. A razão para não viajarmos todos, é naturalmente para defesa do meio ambiente, se toda a população andasse de avião a humanidade apanharia um escaldão devido ao aumento do buraco do ozono. O Mundo é mais sustentável assim, uns peregrinam caminhando, outros voando.

Mal comparado, é como a necessidade do consumo interno se manter ou aumentar para haver crescimento económico. Com o desemprego baixa o consumo, mas equilibra-se aumentando quem vive do dinheiro público; esses vão consumir mais, compensando patrioticamente a falha dos tesos em contribuírem para o sucesso da nação. É o caminho para a felicidade geral. Uns tristes gastam e viajam, embriagados pela sociedade de consumo, essa abominável criação do capitalismo, sentem-se contentes sem se aperceberem do erro em que mergulharam, serão felizes à sua maneira; já o resto passa o tempo a sonhar, e sabe-se como o sonho é o regaço da felicidade, podem ir fantasiar para os aeroportos, vendo partir e poisar os aviões, ou para as docas, assistir ao desembarque dos cruzeiros, ou para os Stands ver os automóveis a ser vendidos. Podem ainda, ó suprema sorte, comprar lotaria ou jogar no euromilhões, a maior invenção da humanidade que possibilita ter esperança durante uma semana, renovável por mais e todas as semanas.

Não têm razão os pessimistas que vêm desgraça por todo o lado, isto caminha de forma sustentável para uma sociedade equilibrada e harmoniosa, assim se deixe presidir quem preside e governar quem governa. Para mais, é possível um facho vir a ser eleito primeiro-ministro e aí os aviões serão talvez os mesmos, mas a mirá-los embevecidos estará uma multidão.

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