terça-feira, 19 de outubro de 2010

Noctívagos, insones & afins: Eu é que sou o berdadeiro candidato!

Carlos Mesquita


Fernando Nobre não perdeu a oportunidade de reaparecer após o anúncio do apoio formal do Partido Socialista a Manuel Alegre. Descobriu mais uma vantagem para a sua candidatura, há mais um partido que o não apoia.

Extracto de um artigo, de há três meses atrás, sobre a candidatura de Fernando Nobre.

…Algumas ocorrências mereciam reflexão, como a intenção de Fernando Nobre ser presidente da Republica, embora as luzes após o anúncio da candidatura, tenham iniciado uma queda de tensão tal, que desapareceu na penumbra. Fernando Nobre é uma das poucas individualidades portuguesas que pode ser apresentada aos nossos filhos como um exemplo de altruísmo, de entrega heróica a causas difíceis e solidárias, de obra feita que perdurará para além da sua vida. Mas isso fará dele um bom presidente? Madre Teresa de Calcutá seria uma boa Secretária-geral da ONU? A política, mesmo exercida de forma nobre, não é uma coisa menor comparada com a sua actividade? O propósito de Fernando Nobre suscita muitas perguntas, mas todas desaguam numa resposta singela, Fernando Nobre quer fazer política. E quando “faz” politica é simplesmente um politico; nessa actuação vai ser avaliado pela maneira como exerce esse novo ofício e não pelo passado, como para Manuel Alegre é secundária a sua arte poética ou em Cavaco Silva o jeito que tinha para saltar barreiras e subir aos coqueiros. O que se conhece das posições politicas do médico é de ter oferecido apoio a candidatos partidários desde Durão Barroso e António Capucho a Mário Soares e ao Bloco de Esquerda, atitudes que terão leituras politicas para todos os gostos. E que é monárquico. Fernando Nobre não tem que explicar donde vem, todos sabemos, mas ao que vem, pois dos três (até agora candidatos) é aquele, cuja prática num hipotético cargo de Chefe do Estado traz maior incógnita. Terá muitas ocasiões para esclarecer os portugueses, se conseguir deixar o discurso do pilar da cidadania, da supremacia moral dos que nunca tiveram partido, e outros populismos semelhantes com que se apresentou. Tivemos o PRD de Eanes o MIC de Alegre e já todos sabemos que quando se junta a “pureza” de vários apartidários, resulta numa organização política; e depois os militantes partidários não têm bicho, são tão cidadãos como os outros, e a maioria exerce a cidadania de forma exemplar, digo eu que não tenho partido. Há um discurso pelo primado do apartidarismo que mais parece um coro de igreja de ateus. Por outro lado tem de contar que a afirmação de que não é de esquerda centro ou direita, avaria a bússola de muita gente que não gosta de dar cartas em branco e que tem de afirmar a diferença para as outras candidaturas. Depois temos as contas, a utilidade dos votos para além dos proveitos das campanhas eleitorais; não vai ser indiferente ter (em crise profunda) um presidente de esquerda de direita ou a pairar acima das opções e realidades do país.

(in Semanário Transmontano de 26/02/2010)

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