(Ilustração de Adão Cruz) |
O FUTURO PRESENTE
Q e A - Para terminarmos gostaria que falassem nas vossas previsões sobre a evolução da situação da mulher, sobretudo da mulher portuguesa. São optimistas ou não?
I. - Acho que estamos numa situação de bola de neve. O que se adquiriu já não se perderá. Quanto mais não seja porque nascem cada vez mais mulheres...
J. - E há o facto de as escolas agora serem mistas o que está a determinar padrões de comporta¬mento e de relacionamento completamente diferentes entre rapazes e raparigas.
Q e A - Mas sem falar nas gerações futuras, quanto às mulheres actuais? Nós não abdicamos de viver o nosso tempo...
J. - Ah, evoluíram sim, sem dúvida!
I. - Ah, sim, porque nenhuma de nós já consegue ficar parada, não fica calada e as outras que estão à volta, quanto mais não seja, ouvem.
Q e A - No entanto, não terá razão de ser a involução de que a Fernanda falou há bocado, quando se nota ultimamente uma reacção muito maior a estes avanços não só por parte das instituições sociais mas, sobretudo, por parte do mundo masculino?
F. - Sim, sim. Embora a mulher esteja a avançar em termos globais temos de contar com os choques de gerações. A minha geração, que viveu a fase de abanão de todas as estruturas, penso que já evoluiu o que tinha a evoluir. Quanto aos que têm agora 17, 18 19 anos estou um bocado céptica porque se há valores que caíram a verdade é que não temos outros para lhes oferecer em troca.
Q e A - Precisarão eles que lhos ofereçamos? Não estarão a criar os seus próprios valores desligados dos que, na nossa escala, nos impedem a nós de irmos mais para a frente?
F. - Eles não estão propriamente a criar valores. Estão é a agarrar-se muito mais a anti-valores.
J. - Que são valores!
F. - Não me parece que sejam valores que lhes permitam avançar.
Q e A - Em termos da nossa estrutura mental e das nossas vivências talvez não...
F. - Há, hoje, muitas moças com 17 e 18 anos a defenderem novamente a virgindade, o casamento pela igreja de vestido branco, coisas que a minha geração já não defendeu.
I. - A tua geração não defendeu porque a tua mãe defendia e elas. agora, defendem o contrário...
J. - Eu acredito muito nesta geração especialmente pela igualdade entre os sexos, que está niti-damente a aumentar.
F. - Mas tu vês que é ainda mais fácil a um rapaz arranjar emprego do que a uma rapariga da mesma idade.
J. - Aí são os velhos que não querem lá as mulheres por causa delas terem filhos. Isso é diferente do que eu estou a dizer. Estou a referir-me à maneira de pensar dos jovens de ambos os sexos que se estão a aproximar cada vez mais. Por outro lado, têm, agora, maior facilidade de acesso à informação e meios anti-concepcionais que lhes dão a possibilidade de iniciarem a sua vida sexual mais cedo. Por isso, mesmo que esbarrem com o problema do desemprego, a evolução não se deterá, até porque essas pessoas que não querem empregar mulheres hão-de, um dia, deixar de ser activas.
Q e A - Gostaria de fazer uma última pergunta embora me pareça já estar praticamente implícita nesta conversa toda: será a mulher um agente de transformação social capaz de imprimir um ritmo e uma qualidade diferentes às alterações profundas que se aproximam?
J. - Eu creio que sim, mas, por enquanto, as mulheres têm grandes culpas em tudo aquilo que não muda, algumas delas porque se aceitam como mártires e não passam disso e outras continuam a servir de grande suporte aos homens, tendo atitudes ainda mais extremas do que eles, mais contra as outras mulheres sendo, de facto, grandes responsáveis na perpetuação dos aspectos negativos do mundo em que vivemos.
I. - Há pessoas que são masoquistas...! (Risos).
Lindo! Ainda bem que puseste a mesma ilustração que eu gosto tanto dela.
ResponderEliminar