terça-feira, 23 de novembro de 2010

Do Romantismo ao fascismo, e deste ao neo-liberalismo, passando pelo negócio das camisas (I)

Carlos Loures
Giuseppe Garibaldi, óleo sobre tela,
Girolamo Induno, 1870, Museo del Risorgimento







Ainda um dia havemos de falar aqui de Giuseppe Garibaldi, um homem que teve um papel decisivo na unificação da Península italiana, dividida em diversos estados. Foi considerado um dos pais da pátria italiana, juntamente com Giuseppe Mazzini e com o Conde de Cavour. Outra designação que lhe é atribuída é a de "herói dos dois mundos”, pois além da sua intervenção em Itália foi um mítico combatente na América do Sul. Na chamada Guerra Grande do Uruguai, em 1842, foi nomeado capitão da armada uruguaia que se batia contra as forças do governador de Buenos Aires, Juan Manuel de Rosas.
Em 1843, durante a defesa de Montevideu, criou a Legião Italiana que se distinguiam pelas suas berrantes "camisas vermelhas". A Legião teve um papel decisivo impedindo a tomada de Montevideu pelas tropas do presidente uruguaio Manuel Uribe. Garibaldi combatera já no Brasil ao lado dos farroupilhas na Guerra dos Farrapos. Em 1846, Garibaldi obteve rotundas vitórias nas batalhas de Cerro e de San Antonio. Mas, por que usavam os seus voluntários camisas vermelhas?

Segundo me lembro de ouvir contar, a história das camisas vermelhas teve origem no facto fortuito de o líder italiano, querendo uniformizar os seus homens, se cruzar acidentalmente no rio La Plata com um negociante de roupas que levava túnicas vermelhas para satisfazer uma encomenda de um matadouro de Buenos Aires (vermelhas para não se notar as manchas de sangue das reses abatidas), comprou todo o lote e equipou com ele os seus mil soldados voluntários. Desse acontecimento puramente casual, terá nascido a vaga das camisas que os partidos de extrema direita (e não só) usaram no século XX. Os primeiros a inspirar-se nos camisas vermelhas foram os fascistas em Itália – os camisas negras, do partido organizado por Benito Mussolini.


Muitos outros se seguiram pelo mundo fora: na Alemanha nazi, as camisas pretas foram destinadas às SS (Schutzstaffel), a guarda pessoal de Hitler. As SA (Sturmabteilung), usavam camisas castanhas. Os fascistas britânicos da União Britânica de Fascistas, liderada por Oswald Mosley, optaram também pelo negro. Nos Estados Unidos, o führer local, William Dudley Pelley escolheu as Shirts Silver (camisas prateadas) para a sua Legião de Prata da América. O azul foi a cor preferida por numerosas partidos e formações paramilitares de extrema direita – a Falange Española, de José Antonio Primo de Rivera, pelos Blueshirts irlandeses, de Eoin O'Duffy para o seu Army Comrades Association, pelos Blueshirts da organização canadiana Canadian National Socialist Unity Party, pelos franceses do Solidarité Française e pelo Parti Franciste, bem como pelos chineses da Sociedade das Camisas Azuis. No México o movimento fascista local usou camisas douradas. O Movimento Integralista Brasileiro, de Plínio Salgado, usava camisas verdes. Em Portugal, como sabemos, a cor das organizações «patrióticas» foi o verde, usado pela Legião Portuguesa e pela Mocidade Portuguesa. Rolão Preto, no seu movimento «nacional-sindicalista» seguiu Itália e as suas “camisa negras”. Não pus datas, mas este negócio das camisas funcionou em pleno nos anos 20 e 30 do Século XX, a meio dos anos 40 começou a entrar em decínio. Na Península Ibérica ainda durou mais três décadas.
Hoje, as camisas são outras – brancas, azuis claras, particularmente quando se vai á televisão – e ostentam marcas Levi’s, Armani, Pierre Cardin… Mas a história destas camisas e dos crimes com elas relacionados - às camisas estão sempre associados holocaustos ou corrupções - é diferente. Mas com alguns pontos de contacto. Lá chegaremos. Para já, ficamos com o hino dos fascistas italianos, cantado pelo grande Beniamino Gigli – “Giovinezza” (Juventude) – Os fascistas sempre idolatraram a juventude – sintomas de pedofilia? Reparem no estilo empolado, saltitante…



(Continua)

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