Adão Cruz
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
Não sei se nestes dois versos há palavras a menos ou palavras a mais.
Não sei se há palavras velhas ou palavras novas.
Nem sei se há palavras.
Sinto que não há palavras, e se há, são palavras exactas, únicas, verdadeiras, puras, nuas, verticais, palavras de fio-de-prumo.
Estes dois versos, com palavras ou sem palavras, palavras velhas ou novas, são um monumento à poesia.
E por eu tanto ansiar que um dia me ofereçam uma caixa de palavras novas, como estas, palavras em versos de versos sem palavras, aqui deixo o meu pedido:
As palavras estão gastas estão gastas as palavras.
Mesmo gastas as palavras são olhos de distância e água as palavras são sopros de horizonte as palavras são bonitas são bonitas as palavras ditas e não ditas.
São boas as palavras por dentro e por fora mesmo as palavras más.
São precisas as palavras para falar com a paisagem se não somos capazes da poesia de Grieg numa Canção de Solveig ou da melodia de Smetana nas ondulações do Moldava.
Mesmo gastas as palavras gastas ainda têm dedos olhos e lábios.
Eu ainda acredito nas palavras gastas puídas sem cor.
São elas que dão a tangência da música e acendem as noites com olhos de fora.
Não matem as palavras gastas e velhas assim sem mais nem menos.
Não deitem fora as palavras velhas e gastas até que me ofereçam no dia em que ficar mudo uma caixa de palavras novas.
sábado, 20 de novembro de 2010
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Para comentar só me apetecia entoar esse Moldava mas aí não chega.
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