isto que eu escrevo não sou eu,
sou eu e os outros em pensamentos misturados
num desalinho de sentimentos complexos,
são somas de muitas raivas contidas, muitas vozes silenciadas,
muitas noites - madrugadas,
isto que eu escrevo
são intervalos de vontade rodopiando entre vagas de ilusão,
a impotência de parar o relógio
eternizando o momento em que nos quebramos
em mil bocados num encontro com o tempo,
isto que eu escrevo,
é o grito sufocado na garganta, um grito mudo
de quem vê pedaços de vidas caídas nas cidades de concreto,
de quem ouve o ulular dos sem tecto
isto que eu escrevo não sou eu,
é o reflexo dos outros em mim,
um cordão de múltiplas vidas em círculos de convulsão
isto que eu escrevo não sou eu,
sou eu e os outros e os outros ainda
(Ilustração pormenor de Adão Cruz)
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