quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A nossa encantadora Natureza – 10, por Andreia Dias

Mocho-galego (Athene noctua)

Ouvi um dia alguém dizer, que quando uma ave é galega, como o mocho-galego ou a narceja-galega, é uma ave “mais” pequena. Folheando um dicionário, uma ave galega, é uma ave parda (no que respeita à plumagem).

Ao contrário dos outros mochos e corujas, o mocho-galego é a ave de rapina nocturna mais fácil de observar pelos seus hábitos parcialmente diurnos. É bastante conspícuo pelo facto de gostar de poisar em locais altos: postes, velhos barracões, amontoados de pedras, árvores secas…



De aspecto rechonchudo, tem voo ondulante e vocalizações fáceis de identificar por fazerem lembrar um latido, ou um grito. De belos olhos amarelos e de expressão facial severa, é pouco maior que um melro-preto. Distribui-se por todo o país e durante todo o ano.

Alimenta-se de roedores, anfíbios, insectos, aves e répteis. Tal como outras aves (cegonhas, aves de rapina, corvos…), engole as presas inteiras e expele o que não é digerível (pêlo, penas, ossos) em forma de regurgitação pelo bico. Estas regurgitações ou egagrópilas (em forma de “bolas”), são muito úteis por serem identificativas das espécies (pela forma, tamanho e cor) e quando analisadas permitem identificar, através das escamas, ossos e pêlos, encontrados, qual a dieta do animal (coisas de biólogos!). Pode armazenar comida quando a apanha em excesso, podendo observar-se um amontoado de ratos à entrada do ninho.

Quando alarmado, assume uma postura agachada, balanceando-se quando está excitado.



Esta é a primeira fotografia que tirei a um mocho-galego. Quando a mostrei entusiasmada à minha grande amiga Raquel Caldeira, ilustre botânica, depressa ouvi: “Que lindos líquenes”, pelo que exclamei: “Raquel, está aqui um mocho!”. “Ah! Um mocho…”, retorquiu. Fica o exemplo das diferenças no que respeita a preferências e sensibilidade de cada um…somos realmente únicos e ainda bem!

Curiosidades: Símbolo da sabedoria, na mitologia grega, aparecia associado à deusa Atena.

8 comentários:

  1. Foi giro esse diálogo com a tua amiga botânica para ilustrar como funciona a nossa percepção. Andreia, qual desses mochos é que eu terei ouvido no Alentejo há umas semanas numa noite de luar? Só se ouvia mesmo o piar do mocho.

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  2. olá Augusta! Podia perfeitamente ser este. Se quiseres, envio-te uma série de gravações de vocalizações (de várias espécies) e tentas descobrir por comparação. Beijinhos.

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  3. Gostava muito. Manda, manda que, quando eu voltar lá, vou-me pôr a comparar. Beijinhos e obrigada.

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  4. Estes textos são uma maravilha, lindos e pedagógicos.

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  5. Não imaginas, Andreia, o gozo que me dá ler estes teus textos, que para além de muito bem escritos e abordarem matérias que nos são estranhas e deconhecidas, são, como diz o nosso Luis, agradavelmente pedagógicos. Especialmente para mim que tenho um indelével fascínio pela natureza, desde a infância.

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  6. Depois deste texto tão bonito e genuíno até fiquei a gostar do mocho.
    Nas minhas memórias de criança o pio do mocho era sinal de mau agouro.
    Recordo ainda hoje esse som arrepiante nas noites negras e nos caminhos sem luz da minha aldeia.

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  7. A associação das aves de rapina nocturnas ao mau agouro perdura e está bem vincada no nosso povo. Para mim, os cantos dos mochos e das corujas são deliciosos. Um exercício giro e que me encanta, é emitir gravações e assistir ao "play-back" que as diferentes espécies emitem. Este constitui também um método de censo e consegue-se saber quem anda pela zona...
    Convém não esquecer que são animais muito importantes para o controlo de pequenos roedores.
    Muito obrigada pelos vossos carinhosos comentários!

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  8. Eu, como não vivi no campo, gostei imenso daquele piar do mocho na noite de luar.

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