sexta-feira, 12 de novembro de 2010
O saber das crianças e a psicanálise da sua sexualidade –24 por Raúl Iturra.
(Continuação)
Hoje em dia faço o possível e o impossível para defender que o complexo de Édipo devia ser virado do avesso: são os pais que precisam dos descendentes, especialmente quando a vida começa a ficar à beira do fim, na mais espantosa das solidões. Ou estamos no cume sem borrascas, como diria Emily Brontë, ou com borrascas por ficarmos sós e pensarmos ter feito tudo correcto na vida. Mas, Margaret Mitchell afirma, desde 1936, que o que não fica por escrito o vento leva. Eu não queria que o vento da vida levasse as minhas memórias, especialmente as mais queridas para mim, as da minha descendência.
Este livro, contrariamente ao Para sempre ticinco. Allende e Eu (no prelo) tem sido pesado. Passar pelo crivo da estrutura de personalidade, submetendo lembranças e emoções a teorias e autores que eu próprio analiso, tem sido duro. Não estou arrependido. É assim.
Há, ainda, uma outra intenção no surgimento deste livro. Entregar aos docentes uma teoria: é necessário saber de história da nossa cultura, ou das nossas orientações de religiosidade que guiam a mente humana, como também é preciso entender a estrutura de personalidade que a nossa cultura, no sentido antropológico do conceito, modela na nossa psicologia. O melhor sujeito para uma pretensão como esta é o nosso ego profundamente estudado com as nossas teorias e as dos sábios que as criaram. Ensinar é saber não apenas a ciência doutoral, mas também a ciência do povo.
Por fim diria, que nunca mais aprendemos tudo o que é necessário para viver e acabar a vida em paz. Seja o que for, está mal feito. Eis porque pus o meu ego sob o prisma da psicanálise, ao estudar a hipótese mais importante do fundador: a libido infantil. Que foi preciso ler o Talmude? Pois foi. Rever o Alcorão, o Mishnã, o Torah? Devia haver uma divindade para me compensar estes anos de aprendizagem, no mais absoluto silêncio, quebrado, por vezes, pela simpática companhia de Maria da Graça Pimentel Lemos, que não apenas fixou o meu português, bem como trabalhou à noite, em sua casa, para corrigir os meus erros, o que agradeço profunda e profusamente.
Anexo 1
Texto de Klein Le psychanalyse des enfants 1933.
Em Londres, Melanie Klein (Viena, 30 de março de 1882 - Londres, 22 de setembro de 1960) psicoterapeuta austríaca, geralmente tida como psicoterapeuta pós-freudiana, encontrou o seu lar intelectual. Dividia o seu tempo entre os psicanalistas britânicos que acolheram as suas (novas) ideias e que aderiram entusiasticamente à aprendizagem das suas técnicas, e o desenvolvimento, na Grã-bretanha, de uma escola ligada às novas correntes da psicanálise. Parte do seu tempo dedicou-o ao treino de futuros analistas do seu pensamento, teorias e técnicas psicanalíticas. A primeira inovação teórica de Klein foi a de incorporar a ideia do instinto de morte ao afirmar que o super ego se desenvolvia em tenra idade, ainda antes da formulação no inconsciente do complexo de Édipo. Esta ideia apresentava-se como um verdadeiro desafio à teoria de Freud do desenvolvimento do inconsciente, conjuntamente com a teoria dos jogos necessários à análise. Estava lançada a controvérsia entre os analistas britânicos e a Sociedade de Viena de Psicanálise, à qual Anna Freud pertencia, encontrando-se, ela própria, à época, a desenvolver a sua própria teoria sobre a psicanálise das crianças.
O simpósio de 1927 dedicado à Análise da Criança, publicado no International Journal of Psychoanalysis, foi o resultado do debate referido antes. Por outras palavras, o dos britânicos/austríacos, acima mencionado.
Klein, durante a década seguinte, contribui para o avanço/novas abordagens da psicanálise, através dos seus estudos continuou os seus estudos sobre crianças, como o seu mais importante debate durante a década seguinte.
No livro datado de 1932, A psicanálise das crianças, traduzido para a língua lusa, só em 1975, pela Editora Imago do Brasil, Volume II: A psicanálise das crianças, em inglês The Psychoanalysis of Children, Klein propõe que a criança tem, na mãe, a sua primeira relação objectiva, sentimento que, por pulsões agressivas, a orienta a desenvolver uma vida psicológica com imagens e fantasias sádicas. Como resultado destas descobertas escreveu um texto pioneiro, em 1935, reeditado em 1984, intitulado: “A contribution to the psychogenesis of manic depressive states”, em língua lusa, publicado pela mesma editora (acima referida), volume I: Amor, Culpa e Reparação ensaio publicado em língia lusa como:“Uma contribuição à psicogênese dos estados maníacos-depressivo, escrito num curto espaço de tempo - entre a morte do seu filho, em Setembro de 1934, com 27 anos de idade, num acidente de alpinismo - e a redacção do texto, inquire a relação entre o luto e os mecanismos de defesa primitivos. Neste texto, introduz a ideia da existência de duas fases fundamentais no desenvolvimento de doenças mentais: o posicionamento paranóide - esquizofrénico e a posição depressiva. As ideias de Klein acerca dos mecanismos de defesa esquizofrénica, produziram um imenso clamor e um duro debate entre os membros da Sociedade Britânica de psicanálise.
No período da 2ª Guerra Mundial, as discussões processavam-se em torno das ideias de Klein, identificadas por kleinianismo, consideradas por alguns tão divergentes das teorias de Freud, que seriam uma outra teoria, mas nunca psicanálise. Do debate resultou a criação/fundação de duas escolas/correntes diferentes: o Kleinianismo e o Froidismo. Klein, surge assim, como a primeira analista a desafiar a teoria de Freud sobre o desenvolvimento da psique.
Gostaria de salientar que já antes, na década de 20, Jung tinha feito um desafio semelhante, que lhe valeu a expulsão da Sociedade Vienense Analítica.
Alice Miller, lança novo desafio, nos anos 70, ao propor novas abordagens para a análise das crianças. O resultado foi idêntico, expulsão do, já organizado, Colégio de Psicanalistas. Desde então, vive na Suiça, de onde produz e envia os mais maravilhosos livros sobre crianças para o programa The Natural Child, ao qual tenho a honra de pertencer. Programa organizada por Alice Miller e assitentes.
(Continua)
Etiquetas:
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