quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Prelúdio

Ethel Feldman

Tivesse três centímetros de cera negra encontraria a forma. 
Modelaria a existência. 
De olhos fechados saberia se é amorosa a curva de cada sentir. 
Bastaria ouvir o pulsar para saber se é branca a cor daquele que respira. 
Se eu tivesse três centímetros de cera preta eu ouviria o silêncio e saberia a hora de partir.


Parece que a neve se instalou na montanha. Tão longe.

Faz amor comigo até que o dia se confunda na noite. 
Deixa-me segredar-te meus medos até que tu, meu amor, me cales com beijos. 
Beija-me o ombro que agora descubro, beija-me o dorso que agora é só teu. 


Palavra que se cala nos lábios que colam.
A cabeça em teus braços, paro o relógio, deixo que o tempo se ausente.
Se me for dado somente um minuto, não lamento. 
Penso nele devagar quando me beijas a boca, a coxa entreaberta, a púbis. 
Quando me beijas por dentro.

Sou a puta da esquina, sou a virgem Maria.
Se o teu tempo for só de um segundo será nele que inventarei a eternidade.
Se o teu tempo for de um compasso, que seja de pausa, porque urge o silêncio. 
Se for um desenho que seja branco – tão intenso.

Eterno é o momento quando me beijas por dentro.
Parece que a neve se instalou na montanha. Tão longe.
Se houvesse antes, se existisse passado
cada história de amor
era encantada com uma nova cor
saudades que tenho
do azul que nunca esqueci
e dos teus beijos loucos.

Se for um desenho que seja branco – tão intenso.
Se o teu tempo for de um compasso, que seja de pausa, porque urge o silêncio.
Eterno é o momento quando me beijas por dentro.
Parece que a neve se instalou na montanha. Tão longe.

4 comentários:

  1. Este poema foi a primeira coisa que eu li do Estrolabio ainda não estava cá. Acho que não era exactamente como está aqui, mas gostei muito.

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  2. é verdade , Augusta. Depois de ver e rever o venho escrevendo entendi que o texto se encaixava e um faz parte do outro e outro do outro, assim como a vida que por vezes não sabemos dividir por partes, ou que somos que nunca somos únicos, porque tu e outros fazem do que sou.
    Assim deixo de entender entre tudo o que escrevi se não escrevo senão e sempre a mesma coisa, um longo poema onde não encontro o início nem fim. Serve-me para fazer amigos, aqui e acolá. Um beijo a todos, a cada um, a fazer um só.

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