terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - coordenação de Pedro Godinho: Síntese do reintegracionismo contemporâneo (2), por Carlos Durão


Síntese do reintegracionismo contemporâneo (2)


(continuação)


Nos anos 20, Vicente Risco (1921, 7: 11) falava em “reintegração” para a cultura galego-portuguesa, afirmando na revista NÓS que “galego e portugués son dous dialectos d’unha mesma lingua” e que “o galego e o portugués son duas formas do mesmo idioma” (1922, 160: 1).  Na sua Teoria do nacionalismo galego diz: “o galego e o português são duas formas dialectais do mesmo idioma” (1966: 22; 1981: 60).  E anos depois, quando Guerra da Cal publicou na editora Galaxia o seu primeiro poemário inaugural do moderno reintegracionismo, aprovava a grafia renovada dacaliana (1960).

Também nos anos 20, Antão Vilar Ponte (1971: 211) referia-se à “unificação”: “Galiza considera o portugués como o galego nazonalizado e modernizado”; “¿O es que todavia hay quien piensa [...] que nuestro idioma vernáculo y el idioma de Portugal no son uno y lo mismo [...]? [...] su unificación es tan fácil, si no más, que la realizada por flamencos y holandeses con el idioma común” (1971: 345-346); “una lengua eufónica, dulce, rica, hermana gemela, por no decir madre [da portuguesa]” (1971: 143); “no hay palabra netamente portuguesa que no sea netamente gallega y viceversa” (1971: 152); “sintiéndonos allí [em Lisboa e no Porto], por lo que a la expresión idiomática respecta y aun por lo que hace relación a ciertos usos y costumbres, casi igual que en nuestra tierra, y desde luego más connacionales, a causa de afinidades de raza, de los portugueses que de los madrileños y andaluces. Observando entonces cómo el gallego, transformado al influjo de evoluciones pertinentes de un antiguo nacionalismo, afluía lo mismo a los labios de la aristocracia que de la mesocracia y del pueblo” (1916: 38); “Se ao longo da Historia de Portugal estivese perdida sua independenza, nen a máis pequena sombra do “ser” galego eisistiría hoxe. Mentras eisista Portugal con caraiterísticas propias, haberá razón na Galiza pra loitar pola reivindicazón da ialma nazonal” (1971: 218); e confia na vitória final: “Las minorías conscientes cuando operan con tenacidad sobre cosas vivas, consubstanciales con el progreso, casi siempre alcanzan victoria” (1971: 107-108).

As Irmandades da Fala históricas (de 1916) sustinham: “todos estamos obligados a trabajar para que, en un próximo futuro, se llegue a una unificación lo más completa posible en la ortografía gallega por parte de nuestros escritores, hasta conseguir incluso identificarla con la portuguesa en la mayoría de los casos, toda vez que se trata, al fin y al cabo, de una misma lengua” (1933.1970 : 8), e: “no existe término netamente portugués que no sea gallego, y viceversa” (ibid., p. 5; foi importantíssimo o teimudo labor das IF por recuperar o nome patrimonial da nossa Terra, Galiza); similar orientação tinham os membros da Geração Nós (1920), e do Seminário de Estudos Galegos (1923): este edita Algunhas normas pra a unificazón do idioma galego (1933.1970) (em cuja parte expositiva afirma que “o galego e o português são originariamente a mesma língua”) e Engádega ás normas pra a unificazón do idioma galego (1936).

A orientação editorial de A Nosa Terra nos anos anteriores à ditadura de Primo de Rivera insiste na defesa da unidade da língua e na necessidade urgente de unificar e “reintegrar” (por exemplo em 31 maio 1922, p. 2, no 164, editorial; e antes em textos com ortografia etimológica de A. Vilar Ponte, p.ex. em “Discursos a nazón galega”, ANT, no 76, 25 dezembro 1918, p. 1, com o emprego correto de g e j); como mais tarde a da revista NÓS: “Nós, que de cote se ten preocupado pol-a colaboración espiritual de portugueses e galegos, non pode por menos de acoller con entusiasmo as iniciativas do Dr. Rodríguez Lapa, mesmo na ideia qu’apunta d’un acordo luso-galaico pr’a reforma ortográfica, para nós tan indispensábele” (1933, 115: 134) (a revista Nós, ano 17, n.º 135, pp. 46-50, 1935, recolhe a palestra do poeta brasileiro Guilherme de Almeida, “Galizza, Pátria da Canção”, na que emprega o vocábulo reintegração, ao lado de reconhecimento e repatriação). E ainda na contemporânea têm cabimento as denominações reincorporação/ recuperação/ reintegração/ galego etimológico-reintegrado (“Normas deontológicas e de redação e estilo” de ANT, março 1981, e fólio 30 do Livro de Atas da Junta Universal de Acionistas de Promoções Culturais Galegas, 28 abril 1982; vide J.L. Fontenla, 1986: 66).

Por aquelas mesmas datas Rafael Dieste falava de “língua franca galaicoportuguesa”: “Existe entre o galego e mais o português tão estreita afinidade que quanto mais português é o português e mais galego é o galego, mais vêm a se assemelharem” (1926: 34). Evaristo Correa Calderón mencionava a "unificação” e o “novo idioma": “Esta unificación con el portugués facilitaría la expansión de la cultura galaica” (1929: 237); “El gallego de hoy es la misma lengua de los clásicos portugueses” (236); e ainda se refere a “esa patria espiritual formada por Portugal y Galicia, en la cual se habla la misma lengua” (234). Para Roberto Blanco Torres precisa-se uma “unificação ortográfica”: “Hay dos corrientes en las normas ortográficas de nuestra lengua vernácula: una la fonética, la rutinaria, influida por el predominio del castellano, y otra la que arranca de su mismo genio originario, de sus fuentes prístinas, la etimología como atributo lógico y esencial [...] porque es la ortografía natural de la lengua gallega, y no se comprende cómo todavía haya en esto no sólo dudas y vacilaciones, sino pareceres adversos, fundados en la rutina y en la ley del menor esfuerzo, sin base científica alguna” (1930: 70). E também para Johán Carballeira é necessária a “unificação”: “Eu son o mesmo que en 1927 propugnaba pola unificación da lingua galega na grafía sobre bases etimolóxicas. É a miña convinción de hoxe e de sempre” (1932). Num artigo de 1922 manifesta João Jesus Gonçales: “Somos galegos e somos lusitanos: relixiosamente, etnoloxicamente, filoloxicamente, por enriba de todas as pequenas e vulgares opinións.” (2008)

R. Otero Pedraio diz: “Galicia, tanto etnográficamente como geográficamente y desde el aspecto lingüístico, es una prolongación de Portugal; o Portugal una prolongación de Galicia, lo mismo da” (1931.1978: 103), e: “Por algo nuestra lengua es la misma de Portugal” (142, 24 maio 1933), e ainda: “A língua deve voltar a ser a mesma” (1977:131). Álvaro das Casas escreve na revista Alento, da que foi diretor: “cuido que deveríamos sujeitar-nos no possível ao português, tanto mais que, na maior parte desta possibilidade, ficaríamos mais dentro das nossas formas originárias [...] seria mui conveniente uma juntança de filólogos lusitanos e galegos que unificassem, no possível, as nossas línguas” (1934, 5).

Para João Vicente Biqueira não há dúvida de que “O galego, não sendo uma língua irmã do português, senão uma forma do português (como o andaluz do castelhano), tem-se que escrever, pois, como o português. Viver no seu seio é viver no mundo: é viver sendo nós mesmos” (1974: 180).

Também na diáspora (antes americana, depois europeia, p.ex. o Padroado da Cultura Galega, Caracas; pessoas relacionadas com o Padroado da Cultura Galega, México; Associaçom Civil “Amigos do Idioma Galego”, Buenos Aires; pessoas relacionadas com a Casa Galicia de Nova Iorque; Grupo de Trabalho Galego de Londres; Grupo de Roma; Renovação-Embaixada Galega da Cultura, Madrid); nela temos testemunhos deste movimento: o livro Grafia Galega, de Fuco G. Gomes (Havana, 1926); a revista argentina A Fouce (“órgao da Sociedá Nacionalista Pondal”); textos de Ricardo Flores “segundo um posicionamento favorável à causa da soberania e do Galego-Português, com coerência no uso da grafia histórica do idioma desde a década de 30, sendo um vulto representativo desta tendência” (2003, 75/76: 234-235); e mais tarde em editorial do jornal Pátria Galega: “a maior parte da intelectualidade galega, e a bem mais activa, tomou partido polo reintegracionismo, tal como em verdade já tinham feito os grandes devanceiros do galeguismo” (Buenos Aires, outubro 1982).

A Guerra Civil de Espanha matou aquele agromar, mas no exílio escreve A.R. Castelão: “O galego é un idioma estenso e útil, porque -con pequenas variantes- fálase no Brasil, en Portugal e nas colonias portuguesas” (1944.1974: 41-42), e também: “A nosa língoa está viva e frorece en Portugal” (241). E em carta de 1944 ao historiador espanhol Sánchez Albornoz: “Yo deseo que en Galicia se hable tan bien el gallego como el castellano y el castellano tan bien como el gallego. Deseo además que el gallego se acerque y confunda con el portugués, de modo que tuviésemos así dos idiomas extensos y útiles” (1975, 47: 101).

(continua)

3 comentários:

  1. O trabalho, e o mérito, é do Carlos Durão.
    E o ensaio ainda tem muito para ler.
    Não percam os próximos "episódios", diariamente como o pão fresco.

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