«Portugal e Espanha deviam discutir Olivença», afirmou o diplomata Máximo Cajal, militante do PSOE e embaixador de Espanha em França, nomeado por José Luis Zapatero. Para Máximo Cajal, é urgente tentar encontrar um consenso para aliviar o mal-estar causado pela questão em alguns sectores.
O ex-diplomata defende a tese no seu livro «Ceuta, Melilha, Olivença e Gibraltar – Onde Acaba Espanha». Nos sectores mais nacionalistas portugueses, disse em entrevista, há uma mal-estar «agressivo» pela soberania espanhola sobre a localidade. «Do ponto de vista português, Olivença é portuguesa», acrescentou, explicando que existe uma «irritação» que o Governo não confessa de forma directa e agressiva, «o que está de acordo com o maneira de ser dos portugueses, que fazem as coisas de outra forma, com menos agressividade, mas o problema subsiste».
Máximo Cajal (1935), licenciado em Direito e diplomata de carreira desde 1963, estava colocado na Guatemala, tendo sobrevivido á chacina levada a cabo em 31 de Janeiro de 1980 na Embaixada por um grupo de indígenas quichés e por elementos do Exército Guerrilheiro dos Pobres, na qual morreram 39 pessoas. Foi depois embaixador na NATO e ocupou diversos cargos em legações espanholas na Suécia, em França, nos Estados Unidos e em Portugal. Durante o governo de Felipe González ocupou diversos cargos na estrutura governamental. Não é propriamente um político extremista, como se pode ver por estes dados biográficos.
Máximo Cajal é da opinião que Espanha, para legitimar a reivindicação de Gibraltar, deveria previamente discutir com os governos de Portugal e de Marrocos, a devolução das cidades de Olivença, Ceuta e Melilha. É uma opinião que já temos defendido e que nos apraz ver confirmada por um homem que de extremista nada tem. De facto, embora ligado ao PSOE, Cajal é apontado como tendo estado ligado ao regime franquista. Após a publicação, em 2003, do seu livro Ceuta y Melilla, Olivenza y Gibraltar. ¿Dónde acaba España?, no qual argumenta a favor da devolução destas cidades a Portugal e Marrocos como ponto prévio para a recuperação de Gibraltar, foi atacado pelos meios de comunicação conservadores, por gente do Partido Popular e por autoridades espanholas das cidades visadas. Perante a quantidade e a violência das críticas, fontes próximas do PSOE vieram declarar que Cajal fora afastado do partido. No entanto, já em 2010, José Luis Zapatero nomeou-o representante pessoal do presidente do Governo para a aliança das Civilizações.
Cajal não avança com uma fórmula para resolver o conflito mas pôs de parte a solução da soberania compartilhada, como já tem sido defendido por outros. Na sua opinião, reconhecer que o problema existe, na questão de Olivença, seria já um passo em frente.
O Governo português não parece ser da mesma opinião e vai-se “esquecendo” de agitar a questão e de demonstrar aos portugueses que Olivença não está esquecida. Não quer arranjar uma questão com Espanha? Mas Espanha não se incomoda de, com menos razão do que nós, aproveitar todas as ocasiões para reivindicar Gibraltar. Será que o Governo espanhol quer arranjar um conflito com o Reino Unido?
Uma nota final. Dá vontade de rir os monárquicos terem pegado na bandeira da causa de Olivença, como se fossem mais patriotas do que os republicanos. Durante mais de cem anos, governos da Monarquia portaram-se com a mesma cobardia que os executivos da República têm demonstrado nesta matéria.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
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