sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Christmas Carols

José Magalhães

Estava em Trafalgar Square nos primeiros dias deste Dezembro pelas 5 da tarde. Era já noite cerrada. Depois de ter visitado a National Gallery of London e de me ter deleitado com quadros magníficos de pintores não menos aclamados mundialmente, como Rembrandt, Monet, Picasso, Renoir e Van Gogh, só para referir os que sempre mais me impressionaram, e de uma infinidade de outros, sentia na cara a breve brisa quase gelada que se fazia sentir.

De mão dada com minha mulher, olhava a estátua de Lord Nelson quando reparei que aos pés da coluna e nas costas do Vice-Almirante estava um presépio rodeado a cerca de alguns metros por uma barreira metálica que impedia a aproximação das pessoas, algumas das quais já se encontravam por lá encostadas, como que a ganhar vez.

Curiosos, como sempre somos nesses casos, aproximamo-nos!

Ao longe ouvia-se, vindo o som do meu lado esquerdo, música, e entrevejo a custo uma espécie de pequeno cortejo, com uma fanfarra a meio, tendo à frente um padre e alguns acólitos. Dirigia-se ao local onde estava exposto o presépio, com o “ministro” a comandar.

O pequeno cortejo demorou cerca de cinco minutos a chegar até à nossa beira, e quando olho à minha volta, já imensas pessoas de todas as idades, desde crianças de colo a velhos muito velhos, esperavam calmamente. Um dos acólitos distribuiu uns panfletos, e quase todas as pessoas aceitaram.

Ainda não conseguia imaginar o que se estava a passar, mas era de certeza alguma coisa importante e agradável. O frio era de rachar, menos de zero graus seguramente, e toda a gente estava com um ar de completa satisfação.

Era em tudo parecido com algumas coisas que já antevira no meu país, organizado pelos padres locais, lá pelas aldeias e vilas. Estava com dúvidas sobre se iria ser celebrada uma mini missa campal ou qualquer outra coisa do género.

Só quando vi algumas pessoas, poucas, a persignarem-se, entendi que a religião era a Anglicana. Mas como se parecia com a minha, Católica Romana. Diziam as mesmas coisas e de maneira muito semelhante, embora com uma menor carga de seriedade (mais tarde, num outro dia, assistimos na catedral de St Paul´s a uma lição de catequese sobre o nascimento de Cristo, e com a excepção de uma certa liberdade de linguagem acompanhada de uma enorme alegria, nada vimos de diferente do que aprendemos e de como aprendemos na nossa juventude).

Depois de uma curta prelecção, deram início à cerimónia, que era nem mais nem menos que cantar os Christmas Carols.

Todas as várias centenas de pessoas presentes cantavam (sim, aos poucos o espaço encheu e eram já centenas as pessoas presentes), num coro de vozes muito afinadas. O folheto que tinham distribuído no início tinha as letras para os menos avisados como eu.

O espírito natalício tinha invadido, e de que maneira, toda a gente.

Nunca na minha vida me tinha apetecido tanto cantar. Senti-me comovido, muito comovido!

A comunhão entre os presentes era total.

Não senti nenhuma diferença, antes pelo contrário, por estar entre cristãos que um dia me disseram serem diferentes de mim. Éramos afinal todos iguais. Todos com o mesmo Cristo no fundo dos nossos corações, e o desejo de paz no mundo muito enraizado.

Acabado o canto, senti-me leve e com um quentinho na alma, esquecido das minhas razões de agora para gostar cada vez menos destes dias consumistas e relembrando o tempo da minha infância em que tudo era belo fácil e alegre, em paz com o mundo e muito, mas muito mais feliz.

Acabado o canto, e enquanto a multidão dispersava com um sorriso nos lábios e um brilhozinho nos olhos, senti que tinha aprendido uma lição e que se calhar ainda haverá alturas em que poderemos voltar a dizer “abençoada época natalícia”.

1 comentário:

  1. Uma das coisas importantes que aprendi nas minhas viagens é que os povos, para além das suas diferenças físicas, cor,cultura,religião, são gente que todos os dias se levantam para viver e criar os filhos.Quando os povos descobrirem que isto é mesmo assim,os crápulas que nos governam e se governam levam uma corrida em osso, e não há guerras, nem competições.

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