quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fala de Pero Vaz aos seus Pares do Concelho da Cidade do Porto – Março de 1500

Sílvio Castro



Este não é um canto fúnebre
do “eu”, desde sempre comigo
nos idos e fados de uma vida;
este não é um canto de conquista
deste meu “eu” quase perdido,
mas a celebração do “outro”,
palpitante no “eu” já entrevisto
em meio à névoa da navegação a vista.

Névoa e vista compõem o horizonte
no longínquo “outro”, fruto de meu “eu”,
triste, triste “eu”, agora vivo no olhar
conquistador do “outro”, de tudo além,
muito além do mar e da tristeza.
O “outro”, nele vivo e sou eu,
ainda que diante da tormenta
que fará para sempre do “eu”, “outro”.

A navegação do “eu” quase disperso
salta, palpita em procelas e calmarias,
deixando a vista do horizonte
vindo festoso do amado Doiro
para além das tormentosas trevas
ao porto seguro do revelado “outro”.
O “eu” navegante, domado e consciente,
se abre ao seu “outro” triunfante.


Meus Pares –
Saúdo Ulisses, mas
o meu navegar é só de ida.
Grande é a festa
de um renascido “eu”,
agora “outro”.

Veneza, 26 de novembro de 2010

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