sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Marcos da primeira década do século XXI – O Ambiente; A Crise económica

Luís Rocha


Estou na Costa da Caparica. O mar está agitado e praticamente não se vê areia. As ondas vão e vêm rebentando na costa, rejubilando de alegria com estrondo e espuma, à carícia da pouca areia que resta.

A visão desta manifestação da natureza, ao mesmo tempo que fascina pela sua beleza reflecte também a sua fúria contra o que o ser humano está a fazer no Planeta.

Chega ao fim a primeira década do século XXI e, apesar de os países ditos mais importantes se terem reunido todos os anos, com o objectivo de diminuir o mal que sabem estar a fazer, todas as reuniões terminaram, com decisões sobre o que cada país terá de pagar para continuar a matar o Planeta.

Vamos assim entrar na segunda década deste século e continuar a pagar para destruir.
As poucas medidas tomadas têm, na prática, sido apenas de sensibilização junto da população para os cuidados a ter com a poluição que provoca.
A evolução económica, medida pela produção de riqueza, com o dito objectivo de, entre outros, criar emprego, não é compatível com a diminuição pseudo-desejada da poluição. Veja-se por exemplo a decisão tomada para recuperar da “crise”: Aceita-se adiar as soluções para poluir menos.
Os governos, em vez de imporem medidas para a solução, pactuam com os interesses do poder económico (ditados pelos países mais ricos) que até esteve na origem da crise e, sabe-se lá, se o objectivo não seria o agora conseguido, de manter ou mesmo aumentar os índices de poluição. Paga-se para poluir e a economia recupera. Caso contrário não se sai da crise.
A década que termina é portanto, para mim, marcada pela sustentabilidade pretendida pelo poder económico para continuar a poluir e ganhar mais, mesmo que a isso se chame fazer recuperar a economia, para sair da CRISE, por eles provocada.
Senão vejamos:


DERRAME DE PETRÓLEO NO GOLFO DO MÉXICO


A plataforma petrolífera Deep Water Horizon, explorada pela BP afundou-se no final de Abril de 2010, provocando a morte de 11 trabalhadores.
Segundo informações dadas pela BP na altura, a fuga de crude do poço, a mais de 1500 metros de profundidade, era cerca de 800 mil litros (equivalente a 5 000 barris) dia. Vários cientistas e especialistas estimavam uma inundação diária do Golfo do México entre 70 a 100 mil barris, equivalente a cerca de 15 milhões de litros.

De acordo com um estudo da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, no espaço de um mês a camada de crude presente nas águas, ocupava uma área de quase 25 mil quilómetros quadrados, o equivalente à área geográfica da Sardenha.
Foram necessários três meses para conter o derrame no poço danificado pela explosão. Estima-se que cerca de 4,9 milhões de barris de petróleo verteram para o mar.
A BP declarou na altura pagar cerca de 370 milhões de dólares norte-americanos em compensações no âmbito de acordos extrajudiciais relacionados com casos e queixas de fraude e danos ambientais no âmbito do acidente.
Como sempre tudo se resolveu com dinheiro de pseudo compensações (não se sabe ao certo quanto e a quem foram pagas).
Entretanto o valor do barril de petróleo no mercado subiu. Casualidade ?


PROTOCOLO DE QUIOTO, CONFERÊNCIAS E REUNIÕES DE COPENHAGA E CANCUM, SOBRE A EMISSÃO DE GASES PARA A ATMOSFERA


Discutido e negociado em Quioto - no Japão - em 1997, foi aberto para assinaturas em 16 de Março de 1998 e ratificado em 15 de março de 1999, o chamado “Protocolo de Quioto”. Oficialmente só entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois de só ter sido ratificado pela Rússia em Novembro de 2004. O protocolo já foi assinado por 172 países, incluindo o que mais polui actualmente: A República Popular da China. Os Estados Unidos da América ainda não assinaram.
Já depois da crise financeira em 2007/2008, decorreu entre 7 e 18 de Dezembro de 2009 a Conferência de Copenhaga, internacionalmente conhecida como COP-15, com a finalidade de tomar medidas para tentar resolver os problemas de redução de gases com efeito de estufa na atmosfera. No final o encontro redundou num grande fiasco, por não oferecer avanços nas propostas ambientais, face ás definidas em Quioto.
Recentemente reuniram-se em CANCUN (México) entre 6 e 11 de Dezembro, mais de 190 países que participaram na 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-16). Da reunião resultou a criação do "Fundo Verde" e a extensão do Protocolo de Quioto para além de 2012, quando expira o tratado.
Nenhuma meta foi estabelecida sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa. O texto de Cancún prevê apenas o estabelecimento de metas voluntárias por parte dos países e ainda permite a elevação da temperatura global em 2°C, com previsões de revisão desse objectivo, entre 2013 e 2015, para 1,5°C.
Quanto à criação do “Fundo Verde” o mesmo tem como objectivo “mobilizar” 100 biliões de dólares por ano, até 2020, para ajudar as nações em desenvolvimento na luta contra as mudanças climáticas (é uma medida humanitária e tapa os olhos com os dedos abertos!).
Ficaram também agendadas novas reuniões: A COP 17, a realizar na África do Sul em Dezembro de 2011 e a ECO-2012 a realizar-se no Brasil, na Cidade do Rio de Janeiro em Junho de 2012.
A conclusão é que o poder económico não está interessado em alterar as regras do jogo.
O crescimento das empresas e consequentemente da economia dos países e do mundo, tiveram e continuam a ter um único objectivo: O lucro selvagem do capital. Ao mesmo tempo a sociedade (população do Planeta) passou a ser altamente consumista. Evidencia-se assim um modelo de gestão empresarial e sociedade que tem vindo a destruir os recursos naturais de uma forma acelerada.
No contexto actual, há uma responsabilidade crescente das empresas para apresentação de valores sociais e ambientais aos consumidores e aos accionistas; Do mesmo modo devem ser exigidas responsabilidades aos governantes para que focalizem esforços (legislação) no sentido do desenvolvimento económico, sustentado numa política ambiental e social.
Temos que escolher entre um mercado global, com o objectivo principal dos lucros de curto prazo e um que apresente uma face social e ambiental. Entre um mundo que condena um quarto da população do Planeta à fome e à miséria e um que oferece a todos pelo menos uma oportunidade de prosperar num ambiente saudável.
Entre um egoísmo livre para tudo, no qual ignoramos o destino dos vencidos e um futuro no qual os fortes e bem-sucedidos aceitam as suas responsabilidades” (Kofi Annan, Sétimo Secretário Geral da Organização das Nações Unidas).
A nós, simples habitantes do Planeta, que na realidade com o nosso trabalho e o consumo que fazemos (estimulado) produzimos a verdadeira riqueza, cabe-nos a tarefa de tentar impor, por atitudes e escolha de governantes capazes, a responsabilidade de SALVAR O PLANETA para as gerações que se seguem.
Que cada um assuma a sua responsabilidade é o objectivo que desejo e proponho para a próxima década que começa em 2011.


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