O rebate de consciências não é para quem se livrou,Luís, é para quem ordenou esta guerra e para quem deixou atirados para o lado todos os que lá deixaram bocados de si. Uma ignomínia completa o comportamento dos poderes para com os que de lá vieram com a saúde do corpo e da alma arruinada. Nunca será demais lembrá-la às gerações actuais. Obrigada por isso José Brandão.
É um belo trabalho do José Brandão.O vídeo é muito bom.Pois, é Augusta, as consciências da ignomia de quem tornou possível aquela guerra injusta e as dos que agora se esqueceram daqueles que vão sofrer até ao fim da vida por lá terem estado.
Fiz este trajecto penoso, mais do que uma vez, entre Binta e Guidage, mas em 1967. Eram aquartelamentos que faziam parte do meu batalhão. De uma das vezes, a coluna em que eu seguia demorou cerca de sete horas para fazer vinte quilómetros, por causa dos atascamentos. Nesse dia fomos atacados por um enxame de abelhas selvagens. Para quem não sabe, tal ataque era mais temido do que uma emboscada. Para além de consequências menos graves, tive um soldado com um choque anafiláctico que quase me ia morrendo. Tenho fotos dessa terrífica viagem. Encontrava-se nessa altura em Guidage a comandar o pelotão, o meu grande amigo alentejano alferes Barrulas que aí sofreu vários ataques. Num desses ataques, estando eu em Bigene, via os clarões ao longe, com o coração nas mãos, e comentava para os meus companheiros "pobre Barrulas, coitado". Encontrei-o anos mais tarde numa festa do Avante e abraçámo-nos longamente.
É, nas situações dificeis que se cimentam as grandes amizades e até a admiração por camaradas.Tenho um amigo da minha escola primária que a partir das 15 h já não sai de casa, viu o que não suporta, aqui na Guiné.
"Muitos" pensam que a bravura na Guiné, só fez "estória" em 1969. Assim não aconteceu, assim testemunhei que as dores, permaneceram por muito mais tempo e acredito, continuam dentro de todos os homens que por lá passaram, independentemente do ano da sua missão e obrigação com Portugal. Furriel Miliciano - Mecânico-auto em Bissau, 72/74. Em 1973, fiz parte da equipa de mecânicos auto e de armamento que saíram do BSM-Bissau (junto à Amura), com destino Guidage. Objectivo: registar todos os destroços encontrados no perímetro com inicio no rio Cacheu e acabava na fronteira Norte compreendida entre, Barro, Bigene e Guidage e Farim. O que encontrei e passados poucos anos (mesmo com rendição), foi humanos estropiados de tudo, cacos sem alma, bocados de si onde já não acreditavam no regresso, escondidos em buracos, olhavam sem destino os horizontes de material danificado. O que vi, o que todos nós vimos, foram soldados, ops.. quase humanos, desgastados de tudo o que passavam, mesmo alguns anos depois. Depois do 25 de Abril, todo o material danificado voltou para Portugal primeiro do que eu e o meu pelotão. O equipamento, auto e armamento em bom funcionamento, ficou na "Província" da Guiné. Regressei em Setembro no barco Niassa. Passei à disponibilidade em Dezembro de 1974.
Obrigado a todos os que aqui pintam a sua alma, a parte da alma com dores e parte pior.. com feridas.
Adão Cruz
Alexandra Pinheiro
Andreia Dias
António Gomes Marques
António Marques
António Mão de Ferro
António Sales
Augusta Clara de Matos
Carla Romualdo
Carlos Antunes
Carlos Durão
Carlos Godinho
Carlos Leça da Veiga
Carlos Loures
Carlos Luna
Carlos Mesquita
Clara Castilho
Ethel Feldman
Eva Cruz
Fernando Correia da Silva
Fernando Moreira de Sá
Fernando Pereira Marques
Hélder Costa
João Machado
José Brandão
José Magalhães
Josep Anton Vidal
Júlio Marques Mota
Luís Moreira
Luís Rocha
Manuel Simões
Manuela Degerine
Marcos Cruz
Maria Inês Aguiar
Paulo Melo Lopes
Paulo Rato
Pedro Godinho
Raúl Iturra
Rui de Oliveira
Sílvio Castro
Uma dor para quem lá andou, um rebate de consciências para quem, felizmente, se livrou daquele terror.
ResponderEliminarExcelente a ideia do video.
ResponderEliminarObrigado Carlos e Verdegaio.
O rebate de consciências não é para quem se livrou,Luís, é para quem ordenou esta guerra e para quem deixou atirados para o lado todos os que lá deixaram bocados de si. Uma ignomínia completa o comportamento dos poderes para com os que de lá vieram com a saúde do corpo e da alma arruinada. Nunca será demais lembrá-la às gerações actuais. Obrigada por isso José Brandão.
ResponderEliminarÉ um belo trabalho do José Brandão.O vídeo é muito bom.Pois, é Augusta, as consciências da ignomia de quem tornou possível aquela guerra injusta e as dos que agora se esqueceram daqueles que vão sofrer até ao fim da vida por lá terem estado.
ResponderEliminarFiz este trajecto penoso, mais do que uma vez, entre Binta e Guidage, mas em 1967. Eram aquartelamentos que faziam parte do meu batalhão. De uma das vezes, a coluna em que eu seguia demorou cerca de sete horas para fazer vinte quilómetros, por causa dos atascamentos. Nesse dia fomos atacados por um enxame de abelhas selvagens. Para quem não sabe, tal ataque era mais temido do que uma emboscada. Para além de consequências menos graves, tive um soldado com um choque anafiláctico que quase me ia morrendo. Tenho fotos dessa terrífica viagem. Encontrava-se nessa altura em Guidage a comandar o pelotão, o meu grande amigo alentejano alferes Barrulas que aí sofreu vários ataques. Num desses ataques, estando eu em Bigene, via os clarões ao longe, com o coração nas mãos, e comentava para os meus companheiros "pobre Barrulas, coitado". Encontrei-o anos mais tarde numa festa do Avante e abraçámo-nos longamente.
ResponderEliminarÉ, nas situações dificeis que se cimentam as grandes amizades e até a admiração por camaradas.Tenho um amigo da minha escola primária que a partir das 15 h já não sai de casa, viu o que não suporta, aqui na Guiné.
ResponderEliminarConheço mais assim,Luís,gente que me dizia respeito. Cortaram-lhes a vida.
ResponderEliminar"Muitos" pensam que a bravura na Guiné, só fez "estória" em 1969. Assim não aconteceu, assim testemunhei que as dores, permaneceram por muito mais tempo e acredito, continuam dentro de todos os homens que por lá passaram, independentemente do ano da sua missão e obrigação com Portugal.
ResponderEliminarFurriel Miliciano - Mecânico-auto em Bissau, 72/74. Em 1973, fiz parte da equipa de mecânicos auto e de armamento que saíram do BSM-Bissau (junto à Amura), com destino Guidage. Objectivo: registar todos os destroços encontrados no perímetro com inicio no rio Cacheu e acabava na fronteira Norte compreendida entre, Barro, Bigene e Guidage e Farim.
O que encontrei e passados poucos anos (mesmo com rendição), foi humanos estropiados de tudo, cacos sem alma, bocados de si onde já não acreditavam no regresso, escondidos em buracos, olhavam sem destino os horizontes de material danificado. O que vi, o que todos nós vimos, foram soldados, ops.. quase humanos, desgastados de tudo o que passavam, mesmo alguns anos depois.
Depois do 25 de Abril, todo o material danificado voltou para Portugal primeiro do que eu e o meu pelotão.
O equipamento, auto e armamento em bom funcionamento, ficou na "Província" da Guiné.
Regressei em Setembro no barco Niassa. Passei à disponibilidade em Dezembro de 1974.
Obrigado a todos os que aqui pintam a sua alma, a parte da alma com dores e parte pior.. com feridas.
Sepol Om
Obrigado, pelo seu testemunho.
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