segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Noctívagos, insones & afins -Testes de stress à banca europeia




Luis Rocha


O que são os testes de stress aos Bancos.
Trata-se de uma avaliação de como se comportam as contas dos Bancos (os seus activos ou a sua capacidade de financiamento) em situações-limite no mercado.


A base da análise deverá ter como principais indicadores:
- A dívida soberana (dividas dos governos);
- A dívida das empresas
- A dívida dos particulares
- A estimativa do crescimento económico (positivo ou negativo) na zona EURO


O tema tem vindo a ser tratado nos jornais e em toda a comunicação em geral, incluindo até debates televisivos.


O último a que assisti foi ontem na “SIC notícias” e das intervenções feitas a que considerei mais sensata, face à realidade portuguesa, foi a de um Professor do ISG.

Das suas opiniões, registei as que me pareceram mais realistas em conformidade com a situação actual e a prevista a médio/curto prazo, sobre a evolução da economia europeia e em particular da portuguesa.


Resumo em seguida as ideias base que retive e com as quais estou totalmente de acordo:
- Sobre o resultado do teste de Stress à Banca Europeia (90 Bancos, que inclui
4 Bancos portugueses que representam cerca de 80% do mercado financeiro
em Portugal) ele opinou o seguinte:


- Em primeiro lugar e independentemente do tipo de análise efectuada,
os resultados não deveriam ser divulgados publicamente. Deveria ser
dado conhecimento a cada País, com as recomendações que os
analistas entendessem adequadas;


- A divulgação pública dos resultados da análise pode ter várias leituras e
consequências como sejam:


- A Análise não considera a chamada divida soberana (divida dos
Estados) e apresentará um resultado falseado. Ou seja, todos ou
quase todos os Bancos vão ter nota positiva, o que redundará
numa desconfiança do mercado;


- A Análise considera os factores principais atrás referidos, mas
com estimativas optimistas (não credíveis) para o crescimento
económico nos próximos anos.
Daqui resulta uma conclusão ilusória, que pode ser positiva para
uns Bancos e negativa para outros;




No caso português por exemplo as perspectivas de crescimento
do PIB para 2010 são de 0.9 % e em 2011 de 0,2%. A dissecação
deste crescimento advém do aumento previsível das exportações
face ás importações e da diminuição do consumo interno.




Resultarão assim para Portugal, maiores restrições no crédito a
conceder pelos Bancos às empresas, ao Estado, diminuindo
portanto a capacidade de Investimento Público e aos particulares,
com maior incidência na área da habitação, afectando assim
também o sector da construção, com o consequente aumento do
desemprego e diminuição do consumo interno já referido;


Ainda em relação a Portugal o Professor levanta a questão sobre o
crescimento das exportações, tendo como base a situação que se tem vindo a verificar nos últimos anos de a Alemanha, que era o país que mais importava, ter vindo a diminuir o valor das mesmas, voltando-se para os países do leste Europeu onde os custos são mais baixos e até dos países chamados emergentes (China e Índia);


Sobre as importações da China e a Índia o professor, levanta a questão de a Comunidade Europeia correr o risco de estagnar em termos de crescimento económico, se não levantar barreiras ou estipular limites ás importações daqueles países;


A publicação pública dos resultados da análise (seja quais forem) pode assim ter como consequências:


- Falta de confiança no mercado da Banca e provocar riscos
sistémicos que abalarão ainda mais as potencialidades da
Europa sobre o seu crescimento futuro e de Portugal,
Irlanda, Grécia e Espanha (PIGS) em particular.




Entretanto o Jornal Expresso do dia 17 de Julho de 2010 anuncia que a
linha de crédito do Estado Português para Angola será usada para pagar
dívidas a empresas nacionais entre as quais se destacam, entre outras a
Mota - Engil, Soares da Costa e Teixeira Duarte.


Em contrapartida a exportações para Angola, entre Janeiro e Abril deste ano, caíram 23%. Estão a importar da África do Sul, Brasil, China, Índia e outros países


Afinal o que e quem estamos a financiar?
Onde vamos buscar o dinheiro?


Uma das eventuais recomendações, resultantes dos resultados do Teste de Stress, será obrigar os Bancos com dívida soberana suspeita nas suas carteiras, a reforçar os seus capitais.
Claro que a Comissão que está a fazer a análise, espera que isso seja feito com capital obtido no mercado ou por injecções financeiras dos governos nacionais.
Mas qual é o Investidor privado (incluindo os actuais sócios maioritários dos Bancos) que vai investir mais na Banca? E qual a capacidade dos governos sem dinheiro, se financiarem internacionalmente e endividarem-se ainda mais?

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