quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

QUE DRAMA, MEU DEUS, ESTÁ FRIO!

José Magalhães

 



Brrrrr … Que frio!

Mais um drama se abateu sobre os cidadãos portugueses. Já não bastava a recessão que teima em não acabar, veio agora o frio.

Nestes dias, a temperatura desceu muito. Os termómetros marcam valores abaixo de zero em muitos locais do país, e parece que vai continuar assim mais algum tempo. Imagine-se que até no Algarve faz frio, em Dezembro, a meio do mês, quase com o Inverno a entrar-nos pelas portas dentro.

O que parece ser um facto é que Portugal tirita de frio.

As rádios e as televisões desdobram-se em reportagens e entrevistas com os habitantes de Bragança, de Chaves, da Guarda ou da Covilhã, e até de Faro. Vão à procura de saber como se sobrevive a tamanha calamidade. Em todo o lado as respostas são as mesmas. Não há grandes variações. – olhe menina (normalmente são meninas que fazem estas reportagens), pomos mais uma camisola ou um cachecol, acendemos a lareira ou ligamos um aquecedor, andamos mais depressa quando estamos na rua, e já está. De manhã vamos à janela e se está mais fresquito, agasalhámo-nos melhorzinho. A vida é assim, sabe?!

Não é propriamente isso que os/as repórteres procuram. Então e as dificuldades, então e as tristezas, então e a falta das notícias dos nossos protectores, lá nas aldeias perdidas do interior ou no extremo sul do País? Como sabem o que fazer? Não sentem a falta de apoio da governação? De quem é a culpa deste estado de coisas? Ninguém protesta?

Na realidade pensam (?) as cabeças pensantes deste nosso país, que nunca houve frio, nunca as temperaturas desceram a valores negativos, e que ninguém sabe cuidar de si. Para tal (para cuidar de nós que não o sabemos fazer), e se calhar por causa disso, arranjaram uma instituição que nos ensina, avisa e protege, a ANPC (Autoridade Nacional de Protecção Civil).

Esta autoridade, tem como principal desígnio chamar-nos de parvos, tolos e ignorantes. Assim, inventaram umas cores e lá nos vão chapando com elas de cada vez que acham que nós não somos capazes de pensar no que fazer. Ensinam-nos que quando está frio nos temos que agasalhar, quando chove e venta temos que usar guarda-chuva e abrigarmo-nos, quando o mar está alterado devemos ter cuidado e não ir-mos para o mar para pescar ou recrear, e até mesmo, que se estiver gelo na estrada devemos andar com cuidado e mais devagar. Isto no Inverno, que no Verão e por causa do calor e da água e da praia e do sol etc., fazem a mesma coisa. Para além, claro, de muitas outras coisas de algum valor e utilidade, que isto de se ser totalmente inútil dá nas vistas. E, para que não nos esqueçamos que ela existe (a Autoridade), lá vão diariamente fazendo comunicados em cima de comunicados, dando cores amarela, laranja, azul e vermelha, às diversas situações que se vão apresentando no nosso dia-a-dia.

Sim, eu sei que esta organização foi criada para ensinar os habitantes das cidades grandes do litoral, onde vivem a maior parte dos ignorantes nestas coisas do frio, do calor e dos ventos, mas, não poderia a Autoridade fazer o seu trabalho em sossego, e em silêncio, trabalho esse que até pode ser muito importante, e deixar-se de tanto barulho e propaganda?

Não sei se por sugestão desta Autoridade, a partir do ano que passou, as casas novas para além da licença de habitabilidade, têm também de ter um certificado de desempenho energético de edifícios e qualidade do ar interior, para que se tenha a certeza que o calorzinho dos aquecedores e lareiras não se vai pelas frinchas das janelas e portas, e que o ar que respiramos é sempre da melhor qualidade. Sem ele, o certificado, não se pode habitar nesses edifícios. Até que nem é mal pensado. A Autoridade tem razão, mas será que realmente tem sido implementado? Ou melhor perguntado, será que quem nos passa esse licença de habitabilidade cumpre e faz cumprir todos os requisitos que a lei impõe?

Depois de tudo isto, que se repete diariamente, em todas as estações do ano, só me resta agradecer a existência desta Autoridade, já que a nossa vida seria muito diferente, para pior, pobres desgraçados, sem a ANPC e todas estas protecções.

É que agora, este ano, este mês, está mesmo um frio de rachar, e eu (e se calhar cada um de nós) nem saberia o que fazer para se proteger.

2 comentários:

  1. E eu que gosto tanto de ler os teus textos e crónicas, Zé, por via do Natal e das suas histórias, já tenho a leitura de alguns atrasada, que tenho que ir recuperar. O gato é uma delícia. Os meus também se pelam por estar debaixo duma mantinha :-)

    ResponderEliminar
  2. Zé, tu estás um espanto. na verdade quem haveria de dizer que eu, que fui criado nas fraldas da Serra da Estrela, não sei como aguentar o frio. Por acaso o comandante em chefe dessa generosa instituição também apanhou o mesmo frio que eu e no mesmo local. Um dia destes vou-lhe dizer para te vir aqui ler.Eu fico mais furioso com os incêncios e digo-lhe!

    ResponderEliminar