Hoje temos um poeta de São Tomé no nosso Terreiro. É um convidado de Manuel Simões, nosso colaborador que vos apresenta Frederico Gustavo dos Anjos:
Poeta e ensaísta, nasceu em S. Tomé em 1954. Fez os estudos primários e liceais em S. Tomé e superiores na ex-RDA, em Leipzig, onde se licenciou em Estudos Alemães. Regressou a S. Tomé e Príncipe em 1984, trabalhou na então Direcção de Cultura até exercer o cargo de Coordenador Nacional da Comunicação Social e, depois, o de Secretário de Estado da Comunicação Social e Cultura, estes já na 2ª. República.
Publicou alguns poemas e artigos no jornal Revolução (S. Tomé, 1975-1991) e, em 1984, publicou a novela Bandeira para um cadáver, tendo como sujeito a louca Perí, inspirada numa figura real, e em que a loucura funciona como veículo de contestação. E em 1985 editou um estudo sobre a literatura são-tomense, As descobertas da descoberta ou a dimensão de uma mensagem poética.
Para além de poemas dispersos em colectâneas (destacam-se A voz do medo e Vem e vamos), publicou o volume Solilóquio (S. Tomé, 1986, ed. do autor), mais precisamente um longo poema de sessenta estrofes, poema em que a ilha é assumida como lugar centralizador da consciência sócio-histórica e como espaço privilegiado de conhecimento. Na sua globalidade, o poema recorre a símbolos que apontam para o tema da liberdade (vejam-se os lexemas “ave”, “voo”, “asas”, “rota”, “vento”, por exemplo), sem transcurar a sua procura, empreendida pelo sujeito poético.
(Manuel Simões)
De Solilóquio:
Sou ave
livre
voo
do bando
com quanto gosto
vou e venho
pode ser
como se diz
tomo rota falsa
rumo ao céu
Tenho asas
não mais que duas
pode ser
como se diz
não tenho jeito
vou só com o vento
quem alto voa
se cai
ADEUS.
Trago ensanguentado
o meu bico
comprido
quem perde?
o quê?
que mal fiz?
a quem?
se me quebram o bico?
(estr. 1,2,3).
sábado, 11 de dezembro de 2010
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