quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma aula prática de Economia no reino do neoliberalismo - 2

2. Uma sociedade chamada Gatsby 4 de Maio de 2008





Christine Dutreil (directora da comunicação do grupo Wendel) esteve como os outros quadros directamente interessada na montagem financeira de Maio de 2007. Ela recebeu 8 milhões de euros em acções e colocou em prática um dispositivo fiscal semelhante ao dos outros membros da direcção.

Dutreil criou a 26 de Março de 2007 uma sociedade civil, Harcelor, com o seu marido Renaud Dutreil, então ministro das PME, do Comércio, do Artesanato e das Profissões liberais do governo Villepin.

O casal Dutreil, sob o regime da comunhão de bens, traz cada um deles 500 euros à Harcelor, domiciliada na sua própria casa. Um mês depois, a 24 de Abril de 2007, fundam uma segunda sociedade, a que deram o nome de Gatsby, uma piscadela de olhos a O Grande Gatsby, novela de Francis Scott Fitzgerald. O capital da sociedade civil é de 3.000 euros, depositados no banco JP Morgan, na praça Vendôme em Paris.




Um preço modesto




Os cônjuges pagam cada um 1.499 euros; a sua sociedade Harcelor paga 2 euros. Christine Dutreil é gerente de Gatsby, domiciliada na mesma morada. A 3 de Maio de 2007, a Companhia de Audon, que detém os 324 milhões de euros destinados aos gestores do grupo Wendel, autoriza os seus associados a vender as suas partes às pequenas sociedades que entretanto criaram. Christine. Dutreil possui 419.712 acções da Companhia de Audon, compradas a 1 euro cada uma, a partir de Dezembro de 2004. Vende 385.800 à sua sociedade Harcelor, a um preço modesto: 23.388 euros, ou seja, a 6 cêntimos a unidade — as cessações de acções com efeito são tributáveis.


Vida privada


No mesmo dia, a sociedade Gatsby recebe as 385.800 acções que lhe traz Harcelor, e 33.912 outras acções que permaneciam na posse de Christine Dutreil. O valor do título, fixado pela Companhia de Audon, é desta vez de 19,17 euros: a carteira dos Dutreil em Gatsby vale assim 8.047.490 euros.

Mas trata-se ainda apenas de acções da Companhia de Audon, invendáveis no mercado. Isto é resolvido a 29 de Maio: a Companhia resgata as suas próprias acções aos seus associados, dos quais Christine Dutreil, com títulos Wendel Investimento, cotados no mercado. A Companhia vendeu-os e resgatou-os a Christine Dutreil ao mesmo preço: não há mais-valias, por conseguinte não há impostos. Gatsby vale então 8 milhões de euros, dos quais a metade pertence de facto ao ex-ministro.

Christine Dutreil, interrogad a pelo Le Monde, afirmou que estas informações tinham apenas a ver com a sua vida privada. Renaud Dutreil não quis responder às nossas perguntas.







Franck Johannès, “Une societé nommée Gatsby”, Le Monde, 2.05.08.

Sem comentários:

Enviar um comentário